Adeus, Amigo Comendador
A emoção que se viveu em Campo Maior na despedida do Sr. Rui, como era tratado Rui Nabeiro, fez-me sentar a escrever estas palavras. Durante dois dias, a atenção do país esteve em Campo Maior, para uma sentida e justa homenagem.
Em todas as janelas, varandas, nas portas das casas, nos passeios, campomaiorenses, espanhóis, diplomatas, políticos de vários partidos, figuras públicas, todos ouvimos o silêncio e as palmas.

© Nuno Veiga / Lusa
Rui Nabeiro foi um homem muito maior do que a vida que agora passou, na sabedoria, simplicidade e bondade, que eram e serão para sempre a sua maior marca.
Homem simples, mas com uma visão do mundo muito maior do que a dureza da vida na sua juventude faria adivinhar. Na raia, onde a pobreza era regra nos tempos da ditadura, nasceu um homem que sonhou mais, que lutou desde cedo para ajudar os seus a livrarem-se da condição de carência, e que não tardou a buscar as oportunidades, procurando distribuí-las justamente pelos que o rodeavam. Fez da proximidade a Espanha uma força, muito antes de outros dizerem que o interior é apenas o espaço mais próximo do grande mercado espanhol.
Escolheu ficar, pelo amor a Campo Maior, mas também porque viu mais cedo do que outros a oportunidade que estava ali a dois passos.
Construiu uma empresa impressionante, com milhares de trabalhadores, com fornecedores em muitas partes do mundo, com clientes por todo o Portugal e muito além das nossas fronteiras. Integrou negócios na fileira do café, expandiu para outras áreas de atividade, mesmo nesta última década, com o sopro de alma de uma família que crescia na dedicação à Delta.
E, sobretudo, consolidou a força de uma marca como nenhuma outra neste país, onde a responsabilidade social passou a ser um dos grandes ativos da empresa. Muito antes de outros falarem em responsabilidade social, Rui Nabeiro já chamava os camponeses que agora se faziam trabalhadores do café, já olhava para todo aquele que passasse necessidades e partilhava com todos eles o seu bem-estar. Reforçou a marca Delta com a força das suas convicções. Era assim o Comendador Nabeiro, o sr. Rui para os mais próximos. Dizia-se solidário (e socialista) por ter nascido pobre. Tão simples, mas tão esmagador, para os que o viam praticar mesmo a cada dia estas convicções.
Construir um império como a Delta, feito com a sua liderança, com os braços das mulheres e dos homens que tanto estimava e respeitava, com amor da família e o sorriso de todos os que bebem um café - sempre com um sorriso, sempre com uma palavra conciliadora, de ânimo para os seus mais próximos, sem gerar inimigos. É obra.
É obra que se deve mostrar, contar muitas vezes para que os campomaiorenses, os alentejanos, os portugueses das próximas gerações continuem a ter orgulho na Delta e no homem maior que agora vimos partir.
A dor que hoje sentimos, que a transformemos em força para não esquecer Rui Nabeiro e viver a vida segundo o seu exemplo: trabalhar com dedicação, sorrir e amar a família e o próximo por toda a nossa vida!
Obrigado.
Eurodeputado