Acordar (para) o país

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A possibilidade de o Chega (CH) ser a segunda força política em Portugal com os votos dos emigrantes é quase uma certeza. O empate técnico, afinal, não era entre a AD e o PS, mas entre o PS e o CH. São várias as ilacções que poderemos tirar destas eleições legislativas e a primeira é que nada é garantido. Um partido que há três anos tinha maioria absoluta tornou-se na terceira força política; um partido que não tinha deputado nenhum há cinco tornou-se na segunda.

Em traços gerais, a maioria parlamentar é de direita e a esquerda foi a grande derrotada da noite. Com uma maioria de dois terços na Assembleia da República, a tão almejada revisão constitucional será possível. Passadas tantas décadas, talvez fosse tempo de se começar por aí as reformas de que o país precisa.

O Livre vive no mundo de fantasia: convenceu-se de que é o receptáculo da burguesia esquerdista que já não se revê no BE e tem a ilusão de ser líder de um grande movimento democrático progressista. Obviamente não contaram o número de deputados com que a esquerda ficou no Parlamento. Foi um pequeno vencedor, com o extraordinário aumento de cinco para... seis deputados.

O PCP, igual a si próprio. Perante a tragédia que assolou o BE, percebe-se o seu contentamento de ter, pelo menos, mantido um grupo parlamentar de três deputados.

Infelizmente, pelo discurso do grande perdedor da noite, Pedro Nuno Santos, testemunhámos uma coisa: não aprendeu NADA. Não foi capaz de nenhuma auto-crítica. Insistiu e continuou no erro. A única coisa decente é que convocará eleições internas e não se irá re-candidatar. Não compreendeu que fez uma campanha miserável e que os seus ataques não lhe renderam simpatia do eleitorado. Não percebeu porque grande parte dos seus votos foram ora para a AD ora, e principalmente, para o CH. Nem que a não viabilização do governo da AD foi motor de implosão dos seus votos.

Os vitoriosos da noite: JPP, AD e CH.

O JPP, partido regional, conseguiu a proeza de roubar votos ao PS na Madeira e fazer-se eleger. Já se tinha imposto como partido relevante nas eleições regionais, agora dá o salto a nível nacional.

A AD foi a grande vencedora da noite, com uma percentagem superior a 30% e aumentando face ao ano passado. Com provas dadas, mereceu a confiança de uma maioria relativa dos portugueses. Lutando contra desinformação, alguma perseguição e até ataque pessoal, conseguiu reforçar a sua posição com mais votos e mais mandatos, o que demonstra que os portugueses querem que continue Montenegro a ser primeiro-ministro.

O outro vencedor foi o CH com André Ventura. A sua mais valia é que sabe exactamente o que os seus eleitores querem ouvir e o que pretendem, mais do que qualquer outro partido. Para aqueles que estão horrorizados com o crescimento do CH, agradeçam a António Costa, quando deu um golpe e, sendo o segundo mais votado, arranjou a geringonça para ser primeiro-ministro e tudo o que se seguiu. Agradeçam aos que, no Parlamento, insistiram em culpar o povo que votava no CH sem enxergar as razões porque o fazia e não vêem o que eles próprios fizeram de errado para isso acontecer. Agradeçam às sondagens e a alguma comunicação social, que diabolizam e insistem em enviesar e controlar a opinião pública, em vez de serem imparciais e dar as notícias. Estes são os maiores perdedores da noite eleitoral.

Está na hora de acordar para o país e para o que dizem e querem, verdadeiramente, os portugueses.

Professora auxiliar da Universidade Autónoma de Lisboa e investigadora (do CIDEHUS).

Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico

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