No ano passado discutimos no Parlamento Europeu o flagelo dos incêndios. Levámos exemplos trágicos dos distritos de Aveiro e Viseu e também da Madeira, locais que tínhamos visitado. Começava a chegar o fresco do outono. As propostas apresentadas e as soluções defendidas não medraram.Já este ano voltámos à carga. Era ainda Primavera e o calor não se fazia sentir. O mesmo resultado.Agora, parece que o calor ainda não chega para fazer corar de vergonha quem só se lembra dos incêndios quando ameaçam queimar a imagem do Governo.Quem é responsável pelas condições em que o país continua a arder não tem uma palavra a dizer sobre as suas próprias políticas e responsabilidades. Da parte do governo e dos partidos que dão suporte directo à sua política – PSD, CDS, Chega e IL – ouvimos a mesma ladaínha a que todos os outros governos nos acostumaram. Incluindo os governos do PS que, com outros ares, fizeram política idêntica.Nem um vislumbre de responsabilidade política a ser assumida por quem governa e decide, nem um esgar (quanto mais um acto…) de contrição pela política que fazem.Nem uma palavra sobre a recusa em investir no ordenamento do território, no combate à desertificação do mundo rural, nos meios de proteção civil e combate aos incêndios. Nem uma palavra sobre o abandono das populações do interior, sobre a lei da selva liberal que tomou conta da silvicultura e do ordenamento florestal, sobre o desprezo pelos pequenos e médios agricultores e a agricultura familiar, sobre a secundarização dos bombeiros no âmbito do sistema de proteção civil.Da parte de quem governa e decide só conseguimos ouvir os mesmos lamentos repetidos e as mesmas promessas vãs de apoios já anunciados no passado e que nunca chegaram.Mais valia que, em vez de lamentos tardios, tomassem medidas atempadas para evitar a catástrofe ou pôr à disposição os meios adequados para lhe responder.Sem nenhum fetichismo com os meios aéreos de combate aos incêndios, pego nesse exemplo.É caro ter esse tipo de meios à disposição do Estado em permanência. Logo os liberais governos das políticas de direita decidem que só os alugamos quando precisarmos deles. Fica assim mais barato…Como precisamos deles ao mesmo tempo que os países que os têm, das duas uma: ou não há para alugar ou custam caro demais. Lá se vai a poupança…Como não são nossos, não conseguimos controlar as condições de funcionamento ou de manutenção a que estão sujeitos. Vai daí, podemos até alugar 1, 2 ou 3 meios aéreos que afinal de contas não podem operar. Lá se fica a capacidade de resposta…Se, por fim, ficarmos dependentes dos meios que possam ser mobilizados a partir dos mecanismos de solidariedade internacional, voltaremos à mesma situação caso também outros países necessitem dessa mesma solidariedade.Dêem-se as voltas que se quiser dar para arranjar desculpas de cada vez que isto acontece. A verdade é que sem investimento público nunca haverá meios adequados para prevenir e combater os incêndios. E sem políticas que façam prevalecer o interesse público sobre os grandes interesses económicos nunca as populações e o país estarão verdadeiramente a salvo das suas consequências trágicas. EurodeputadoEscreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico