A verdade na política: a mentira da Educação

Muitos responsáveis políticos esquecem que a governação da res publica implica o rigor e o realismo na avaliação dos problemas e a verdade quanto ao relato dos factos. De há muito a sensação que temos é a de que se navega à vista nos mares encapelados da Educação. De Maria de Lurdes Rodrigues a João Costa, de Manuela Ferreira Leite a Tiago Brandão Rodrigues, a pasta ministerial tem constituído um verdadeiro caso de esquecimento de inúmeras medidas pelos quais são responsáveis todos os ministros e as suas respetivas equipas. Mas foi entre 2005 e 2009, no consulado de Maria de Lurdes Rodrigues, que se feriu de morte a profissão docente. Não pode a ex-governante, pois, dizer, que está agora preocupada "com o estado da Escola Pública". O país ganhará em saber alguns factos e os pais entenderão definitivamente a nossa luta. No fim deste artigo deixo proposta de livro bem atual.

Os factos: foi a antiga ministra quem criou o cargo de Diretor nas escolas; essa medida que resultou no servilismo de muitos que seguem as diretrizes emanadas do Ministério da Educação, aparelho da ideologia oca. Pergunto: com que verdadeira imparcialidade e rigor se quis criar este cargo? Não se criou um ambiente policial nas escolas? Que falem os professores!! Que digam de sua justiça! Que ponham a nu as perseguições de que são e foram alvo! Pergunto: as escolas, antes de haver o cargo de diretor, funcionavam mal? Foi no consulado de Maria de Lurdes Rodrigues que se criou o modelo de avaliação docente baseado no sucesso obtido pelos estudantes. Tal medida gerou um facilitismo soez que devia ser repudiado por todos, inflacionando-se as classificações com vista à subida de escalão e boa classificação de desempenho. A mentira como moeda de troca na relação pedagógica e na relação entre pares, eis a política de MLR. Assim, é bom professor quem banaliza os Excelentes, os 17, os 18, ou mesmo os 19 e 20 valores. Com Exames Nacionais que visam comprovar o sucesso das avaliações, baixou-se o nível de dificuldade e exigência das matérias a lecionar. Resultado final: todos contentes e os pais também. Depois desta escolaridade obrigatória e das licenciaturas à bolonhesa, temos de perguntar: que país será o nosso? Que conhecimentos têm futuros quadros superiores?

Maria de Lurdes Rodrigues mudou o estatuto da carreira docente criando a discriminatória divisão entre "professor" e "professor titular". O objetivo? Reduzir do Orçamento o gasto com salários de 93% para 75%, com impacto direto na progressão profissional dos professores em todos os níveis de ensino e foi com Maria de Lurdes Rodrigues que se promoveu o Estatuto do aluno. Consequência: os filhos dos iPhones e dos tablets, das redes sociais; a geração "Tipo, tás a ver? Tá-se! Que cena!", filhos da violência online tudo podem na escola - tudo menos estudar verdadeiramente. Entre 2005-2009 reformou-se o 1.º ciclo, considerado "programa de benefícios para as famílias e não como estratégia para implementar a aprendizagem e desenvolvimento dos alunos". Resultado: a Escola-Refeitório-Armazém. Aprender a ler e a pensar, a escrever bem e a ter consciência crítica, descobrindo a cultura, a memória e a História, as artes, a Linguagem? Isso fica reservado para as classes ricas que podem pagar privados e/ou fazer emigrar os seus filhos para a Finlândia.

Não falarei do criminoso projeto da Parque Escolar, com derrapagens orçamentais de 547%... Pergunto apenas: onde está a verdade na política? Não foi MLR quem "degradou a carreira docente e as condições de aposentação" (palavras suas)? O que nos faltava para o projeto neoliberal, meramente economicista, vingar na Educação? A municipalização. Isso e a "inverdade" do Ministro das Finanças que declara, ufano, que a dívida pública (a dívida dos elefantes brancos da nossa economia) está a descer e que, por isso, não pode subir salários aos milhares que pugnam por uma vida com sentido no país do absurdo em que Portugal se tornou.

Livro: Verdade e Política,
de Hannah Arendt
(Ed. Relógio d"Agua)

Publicado em 1967, na sequência de Eichmann em Jerusalém, aqui fica a tese deste livro: "As mentiras foram sempre consideradas como instrumentos legítimos e necessários na profissão de político". Pergunta-se: "Por que será assim?" Que significa tal facto no exercício da política? Será a verdade impotente porque é natural à política a arte de mentir? Estas e outras questões num tempo em que a sentença Fiat justitia et pereat mundus (Faça-se justiça ainda que o mundo acabe) pesa em Portugal.

Professor, poeta, crítico literário e ensaísta.

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