A União de Draghi (e VDL)
O Relatório Draghi sobre a competitividade da União Europeia foi celebrado pela direita europeia como um relatório orientado para a economia e, pelos progressistas, como uma defesa de que a Europa necessita de um muito maior orçamento comum para ser mais forte e competitiva.
O ex-presidente do Banco Central Europeu, corretamente, argumenta que as maiores debilidades europeias estão hoje na sua incapacidade de competir na economia e geopolítica global, que se tornaram muito mais confrontacionais.
Uma Europa que teima em não tomar decisões e promover investimentos para recuperar o terreno perdido relativamente a EUA e China nos investimentos em tecnologia, que deixou de poder contar com o gás barato da Rússia para a competitividade da sua indústria, que precisa de ser mais autónoma na sua defesa coletiva e geoestratégica.
O relatório propõe um plano massivo de investimento para o avanço da UE nestes três planos, incluindo através de dívida comum europeia. O que Draghi propõe agora é que repliquemos todos os anos a bazuca que aprovámos com muita dificuldade para a recuperação europeia da crise covid.
Um avanço enorme no projeto europeu, que se pode saudar com regozijo ou destruir sem piedade. Foi o que aconteceu logo de seguida, como era previsível.
O duro ministro alemão das Finanças, da família liberal, nem quis deixar o plano sobreviver à discussão em qualquer das instituições europeias, declarando enfaticamente que a Alemanha não está disponível para financiar tal plano de investimento comum.
Terá o relatório e a sua ambição morrido assim à nascença? Não creio. Mario Draghi e Von der Leyen são líderes experientes, sabiam bem que seria esta a reação dos frugais a tal proposta. Contarão com o prestígio e experiência negocial de António Costa para fazer avançar a proposta.
O mérito é colocar na agenda europeia um roadmap para a competitividade no quadro global, que as instituições europeias vão agora tentar transpor para a realidade através da política dos pequenos passos e dos consensos, tradicional do acquis comunitário.
As medidas de desburocratização e de constituição do Mercado Único de Capitais, as relacionadas com a promoção da energia verde e da indústria de Defesa serão passadas progressivamente a propostas legislativas que farão o seu caminho pelo circuito político e legislativo.
Em breve chegará mais um momento definidor, a negociação do próximo quadro financeiro plurianual, o Orçamento para sete anos na União Europeia. E aí será de esperar (mais) um ataque à política de coesão e à política agrícola comum, que no seu conjunto valem cerca de dois terços do Orçamento Comunitário.
Portugal deve estar muito atento - tanto aos riscos, como às tremendas oportunidades que esta nova orientação da União nos trará!
6 valores: Ataques a migrantes
Trump e J.D. Vance continuam a espalhar mentiras sobre haitianos comedores de animais domésticos, mesmo depois de repetidamente desmentidos pelas autoridades e criticados até por republicanos moderados. Em Portugal, já há deputados do Chega a copiarem este argumento tresloucado dos MAGA. O ódio e a mentira vão fazendo caminho.