A Ucrânia já pode defender-se

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O desbloqueio no Congresso americano teve efeitos multiplicadores em poucos dias. Os 580 milhões de euros que compõem o maior pacote de apoio vindo de Londres à Ucrânia de sempre assim o apontam, com os seus 1600 mísseis de ataque e antiaéreos (além dos Storm Shadow), centenas de veículos e quatro milhões de munições.

A Alemanha ofereceu à Ucrânia equipamentos das suas próprias centrais termoelétricas fechadas para substituir instalações danificadas por ataques russos – algo que a Lituânia já tinha oferecido, há meses, a Kiev.

Nas próximas semanas, a Ucrânia terá cada vez mais possibilidades de se defender, à medida que o material do novo pacote americano for chegando ao terreno.

Mas é preciso mais.

A União Europeia vai avançar com 14º pacote de sanções à Rússia, mas ainda não foi capaz de chegar a acordo quanto à entrega de Patriots à Ucrânia. Para já, a Alemanha vai pressionando os EUA a enviar outro sistema antimísseis Patriot para Kiev.

Enquanto isso, Zelensky não desiste da Cimeira Global da Paz, para a qual tenta contar com a presença da China. A data será acertada em breve, sendo já certo que decorrerá na Suíça.

Moscovo insiste na narrativa de inversão

A maior prova de que as novas ajudas à Ucrânia perturbaram Moscovo é a de que a Rússia se apressou a garantir que vai retaliar imediatamente, se “o Ocidente usar ativos russos a favor da Ucrânia”.

Moscovo condenou a ajuda dos EUA à Ucrânia, Israel e Taiwan, afirmando que “vai agravar as crises mundiais”.

“A ajuda militar ao regime de Kiev é um apoio direto às atividades terroristas; a Taiwan, uma ingerência nos assuntos internos da China; a Israel, uma via direta para um agravamento sem precedentes da situação na região; os EUA estão a travar uma guerra híbrida com a Rússia, mas vai ser um fiasco humilhante”, arenga a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova.

Também Lavrov insiste na narrativa de que o apoio dos Estados Unidos, Reino Unido e França à Ucrânia está a alimentar o risco de um confronto direto entre as maiores potências nucleares do mundo.

A tese do Kremlin é a de que Washington e a NATO estão obcecados com a ideia de infligir uma “derrota estratégica” à Rússia e de que há riscos nesse confronto que podem levar a um aumento do nível de perigo nuclear. “Vemos sérios riscos estratégicos nisto, levando a um aumento no nível de perigo nuclear”.

Como sempre tem acontecido desde o início desta guerra quando se sente acossada, a Rússia reagiu insinuando novas ameaças.

A Polónia diz-se pronta a receber armas nucleares da NATO: "Se os nossos aliados decidirem implantar armas nucleares no nosso território, com o objetivo de fortalecer a segurança do flanco oriental da NATO, estamos prontos", declarou o presidente polaco, Duda, após o envio de novas armas pela Rússia para Kaliningrado e Bielorrússia.

O Kremlin já ripostou: armas nucleares na Polónia serão alvo legítimo em caso de confronto direto com a NATO.

A Rússia posiciona mísseis e soldados na fronteira com a Finlândia. Os Iskander e os soldados foram deslocados para a região da Carélia (zona de lagos a norte de São Petersburgo e que se estende ao longo de quase toda a fronteira com a Finlândia). Estas forças fazem agora parte do Distrito Militar de Leninegrado, criado em resposta à adesão da Finlândia à NATO.

Rússia aponta a Chasiv Yar nas próximas duas semanas

A Rússia terá como objetivo capturar Chasiv Yar até 9 de maio, data em que comemora o Dia da Vitória. As tropas de Putin assumiram, no fim de semana passado, o controlo da região de Bohdanivka, pequena localidade situada a menos de 10 quilómetros de Chasiv Yar.

Dois dias depois, as forças de Moscovo terão tomado Novomikhailovka, a sul de Marinka, que se encontra numa conexão rodoviária que liga outras cidades da região. Não se trata de uma cidade de particular relevância estratégica, mas não deixa de ser mais um sinal de "progressos lentos, mas crescentes” (a expressão é dos serviços secretos britânicos) das tropas russas na invasão ilegal e não-provocada da Ucrânia.

Bem mais significativa será a sorte de Kharkiv, segunda maior cidade ucraniana. Esse, sim, será o grande objetivo da Rússia neste ano de 2024. Sob domínio ucraniano, tem vindo a ser alvo de uma prolongada estratégia de flagelo da aviação russa, num processo idêntico ao que aconteceu, há dois anos, com Mariupol: destruição quase total da infraestrutura energética e das comunicações, isolamento da população e das áreas habitacionais. O ataque à torre de televisão de Kharkiv foi a mais recente prova disso.

Quanto a Kiev, e perante sinais de que a Rússia poderá ponderar nova ofensiva nos próximos meses, a Ucrânia instalou 10 mil dentes de dragão em redor da capital ucraniana.

O Instituto de Estudos para a Guerra é claro na análise do momento atual: apesar das ajudas que acabam de ser desbloqueadas, a Ucrânia vai continuar “a enfrentar escassez contínua de munições”, a Rússia vai intensificar a ofensiva. O mesmo aponta análise britânica: “A Rússia mantém uma vantagem quantitativa significativa no conflito, superando a Ucrânia em número de munições e equipamento”, afirma o ministério da Defesa do Reino Unido.

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