No início o Governo de Luís Montenegro entrou com um ímpeto reformista. Arrumou o que havia para arrumar. Avançou com a recuperação faseada da contagem do tempo de serviço dos professores. Mexeu nos impostos. Baixou o IRC para as empresas em dois pontos percentuais e o IVA da construção civil caiu para os 6%.Apontou um objectivo ambicioso para a construção de habitação pública lançando um repto para que o número das 29.000 habitações a construir saltasse para 59.000 até 2030. Lançou as bases da privatização da TAP e anunciou o local da construção do novo aeroporto.Os jovens foram contemplados com uma taxa máxima de IRS de 15% até aos 35 anos, uma isenção de IMT e imposto de selo na compra de habitação com garantia de financiamento público em 100%.Criou uma estrutura de missão para regularizar os 400 mil processos de imigrantes deixados pelo anterior Governo, lançou os alicerces da regulação da imigração.Portanto, trabalho feito e medidas de índole estrutural avançadas pelo Executivo no seu começo.Agora tudo está parado ou quase. Parece haver um esgotamento do Executivo. As preocupações do Governo viraram-se quase que, exclusivamente, para uma política assistencialista de bónus aos reformados e aos funcionários públicos. Naturalmente que conta aqui o tempo de eleições autárquicas a explicar este assistencialismo governamental.O Governo está agora em gestão, numa perigosa trajectória de lentidão, sem que surjam medidas que, verdadeiramente, mexam com a realidade do país.O Executivo está parado à aguardar a aprovação do Orçamento do Estado. Sem decidir e tomar novas medidas.A tal ponto que o ministro Castro Almeida veio anunciar um projecto, o Sines Data Center Campus, já, anteriormente, apresentado, publicamente, por António Costa.A incapacidade do Governo em avançar com soluções eficazes na área da saúde começa a deixar marcas de desgaste no primeiro-ministro. Depois do desígnio apontado na tomada de posse no sentido da resolução e relançamento de uma profunda reforma da saúde, eis que Ana Paula Martins defraudou todas as expectactivas que tinham sido colocadas quando o Executivo tomou posse. O SNS é hoje um caos, sem que se consiga vislumbrar uma estratégia e uma reforma que dê sentido e organize o serviço da saúde em Portugal.Na Educação o Governo nada nos diz sobre como vai substituir os 3600 professores que vão reformar-se no próximo ano.Na Defesa não há indicações onde vão ser feitos investimentos.Não se antevê vontade política para uma reforma da Segurança Social.A Justiça continua lenta, sem medidas que acelerem e agilizem processo judiciais.Com uma greve geral marcada para 11 de Dezembro o país ficará atento à capacidade de negociação que o Governo vai ter para conseguir um acordo com as centrais sindicais. Não existem dúvidas de que a legislação laboral precisa de ser alterada. Chegar a acordo com as centrais sindicais e evitar a greve geral é um desafio que dará conta da força do Governo em encontrar soluções que tragam paz ao país. De nada serve o primeiro-ministro classificar a greve geral de “extemporânea e mesmo anacrónica”.Entretanto há ainda outras áreas governamentais paralizadas. O ministério da Reforma do Estado nada avançou de concreto relativamente a iniciativas que combatam a burocracia e tornem mais ligeiro o pesado aparelho do Estado.Na Administração Interna temos outra ministra ausente sem que se conheçam medidas que combatam com eficácia a insegurança que se verifica nalgumas zonas mais desfavorecidas e limítrofes das grandes cidades.Nesta lógica de velocidade de cruzeiro do Governo, o primeiro-ministro dá sinais de uma ausência de medidas estruturais que, verdadeiramente, alterem a face do país e o coloquem numa trajectória de mais crescimento económico.Luís Montenegro parece estar paralizado e sem capacidade de iniciativa. Nos últimos tempos “tirou o pé do acelerador” e entrou numa perigosa velocidade de cruzeiro. Mau sinal num país que tanto tem de fazer para combater as bolsas de pobreza e colocar Portugal numa rota de crescimento e progresso.Jornalista