A pedra angular do desenvolvimento

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Importa ter-se uma ideia clara de como se passa do subdesenvolvimento para o desenvolvimento sustentado e sustentável.

Num traço, o subdesenvolvimento caracteriza-se pelo facto de uma economia ser dominantemente primária, manifestando uma grande dependência externa, apresentando-se, ainda, dualista e fortemente condicionada pelo que se designa de “círculo vicioso da pobreza”.

Primária porque é dominada pelo sector primário, dependente porque não dispõe de uma grande diversidade de produtos do lado da oferta, sendo estes últimos muito dependentes dos preços internacionais e dual porque vive de um contraste gritante entre segmentos restritos da economia e da sociedade com um nível mais elevado de vida e a generalidade da população que vive ao nível de subsistência.

Condicionada pelo círculo viciosa da pobreza porque se caracteriza por não dispor de capacidade de acumulação de poupança interna significativa que possibilite a realização de elevado investimento endógeno, sendo certo que, por outro lado, mesmo que houvesse capacidade endógena para investir, não existiria incentivo a tal por ausência de um mercado interno forte.

É neste quadro que importa “romper” com o referido “círculo vicioso da pobreza”.

E, ao longo do processo histórico, têm ocorrido duas vias distintas: a do “modelo de poupança forçada” de inspiração colectivista e a do recurso ao Investimento Directo Estrangeiro.

A primeira permitiu que houvesse sistemas como o da URSS, em que todos auferiam de um mínimo de subsistência, canalizando o Estado as “mais-valias” de que se apropriava para sectores industriais de base. Chegava-se ao "big-push" “a la Ranis e Fei”, mas nunca se atingia o shortage point, na perspectiva dos mesmos autores.

Isto é, criava-se um sector industrial, mas não uma indústria transformadora competitiva à escala internacional, com a emergência de uma classe média forte.

A segunda permitiu que em diversas economias, como as do Japão, da Coreia do Sul, da Austrália e da Nova Zelândia, se atingisse o shortage point e, inclusive, o commercialization point “a la Ranis e Fei”, melhor dizendo, que não só se criasse um sector industrial moderno e competitivo à escala internacional, como uma classe média forte, generalizando-se, inclusive, o desenvolvimento a todos os sectores da actividade económica.

Portugal avançou para o shortage point na década de 60 do século passado, com a entrada na EFTA e, por conseguinte, com a aposta na internacionalização.

E chegou ao commercialization point em finais da década de 90, passando a ser considerado um País com uma economia desenvolvida e sustentada.

Mas, como é que se mantém um país desenvolvido e em condições de sustentabilidade?

Apostando-se na inovação, no progresso tecnológico, em estratégias de crescimento a duas velocidades, na consolidação de economias inclusivas, na integração em espaços económicos igualmente desenvolvidos e sustentáveis, na “Good Governance” e na intensificação do comércio intra-sectorial que valoriza diferenças em características particularizantes que satisfaçam procuras sofisticadas.

Ora, tal significa que temos, cada vez mais, que privilegiar a nossa integração na UE, isto é, a nossa pertença à Europa.

É a segunda maior potência económica do Mundo, é a segunda região mais importante do Mundo, em termos de riqueza líquida, a segunda (senão a primeira) em termos de mercado consumidor efectivo e potencial para os anos mais próximos, dispõe de uma procura altamente sofisticada e constitui a experiência integracionista mais aprofundada do nosso planeta.

Se nos aplicarmos em ser competitivos e eficientes na Europa, seremos sempre competitivos e eficientes no Mundo, conseguindo conciliar o crescimento económico com a sustentabilidade e, por conseguinte, com o desenvolvimento.

Há quem pense que, comparativamente com as novas economias emergentes, a UE não apresenta as mesmas potencialidades competitivas dinâmicas.

Mas, trata-se de um engano, porque estamos a falar de sociedades europeias que já atingiram o commercialization point, já fizeram a sua “revolução social” e que, por isso mesmo, têm, à partida, condições de sustentabilidade futura que as novas economias emergentes não apresentam.

Nem mais, nem menos…

Economista e professor universitário

Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico

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