A nova desordem mundial

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Já sabem quem são os novos culpados da guerra na Ucrânia? Putin, Biden e Zelensky. Pois claro! Por esta ordem de responsabilização,no dizer do novo desordeiro da Casa Branca. Valha-nos o facto de Trump reconhecer que Putin é o responsável número um da invasão da Ucrânia. Nos tempos que correm já nos podemos dar por satisfeitos.

Entretanto o planeta segue o seu destino com o caos instalado na economia mundial. As tarifas alfandegárias, esse alfa e omega que tudo ía resolver, transformou-se numa dor de cabeça para empresários e governos de todo o planeta. Estados Unidos e China são, no imediato, os mais atingidos pela febre tarifária de Trump.

Que o diga o empresário norte-americano Michael Silver administrador da empresa “American Elements”, proprietário de uma fábrica em Los Angeles e que, segundo o New York Times, tem de esperar 45 dias até receber a quantidade suficiente de metais raros que necessita para produzir os componentes que saem da sua linha de produção.

Naturalmente que o governo chinês usou a arma que provoca mais estragos ao país do Tio Sam. Pequim suspendeu a exportação de determinados metais raros, sobretudos os mais usados nos automóveis, nos semicondutores e na indústria aeroespacial. Particularmente a exportação de magnetos, essenciais para a produção de motores de carros eléctricos, drones, robots e mísseis está parada e há navios nos portos chineses a aguardar uma nova regulamentação do governo chinês sobre a exportação de metais raros. 90 por cento dos magnetos são produzidos na China e a suspensão da sua exportação coloca no fio da navalha as fábricas norte-americanas de Detroit que necessitam desses metais raros para produzirem os motores eléctricos e outros produtos que saem da linha de produção daquelas fábricas. Uma situação que leva Daniel Pickard, um experiente gestor de comércio internacional e que apoia grandes empresas norte- americanas na procura de novos mercados, a expressar, publicamente, sérias preocupações pelas restrições da China na exportação de metais raros e a afirmar ser necessário encontrar com urgência uma solução para a escassez dos metais raros.

Acresce que nesta nova desordem mundial dos fluxos de comércio internacional a China é, igualmente, atingida. Segundo o responsável de uma das maiores empresas despachantes, a Drewry, a guerra aberta por Trump vai provocar nas próximas cinco semanas um cancelamento de 53% na capacidade de transporte marítimo entre a China e os Estados Unidos.

Wang Xin, um político e cientista, membro da Academia Chinesa de Ciências, líder de um grupo que representa 3.000 empresas do sudeste industrial da China que abastecem mais de 40 mil clientes, afirmou que com taxas de 145%, as empresas que representa vão ter de abandonar, rapidamente, o mercado norte-americano e procurar novos mercados internacionais. Em declarações ao jornal Le Monde, Wang Xin declarou que a pressão sobre as médias e pequenas empresas chinesas é grande e que, algumas, já suspenderam a sua produção. Mais uma consequência da desordem mundial provocada pelo novo inquilino da Casa Branca.

Claro que esta situação que está a ser criada por Trump é desfavorável, sobretudo, para os Estados Unidos. O intercâmbio de bens entre os dois países atinge um valor de 600 mil milhões de dólares e a troca de serviços 70 mil milhões de dólares. Ambos os países perdem. Aliás, perde o mundo inteiro.

Contudo, futuramente, a China levará alguma vantagem neste processo. Os Estados Unidos traíram a confiança dos seus habituais parceiros comerciais com quem, tradicionalmente, fazem a suas trocas comerciais. Isto consitui uma desvantagem. Por outro lado, os custos de produção da China são muito mais baratos. O seu sistema de produção é mais versátil e pode, facilmente, virar-se para outras latitudes e a procurar novos mercados, como aliás já está a fazer junto de parceiros asiáticos e da União Europeia. Como o prova a recente visita de Xi Jinping ao Vietname que deixou tão preocupado Donald Trump.

Para a China será sempre mais fácil a conquista de novos mercados dada a sua maior competitividade e o baixo custo dos seus produtos. Nos últimos anos a moeda chinesa, o yuan, desvalorizou 17 por cento o que torna a produção chinesa muito mais competitiva a nível mundial. Ajuda, ainda, o carácter autoritário e centralizador do seu sistema político que é uma manifesta vantagem na rapidez e fluidez de que carece a tomada de decisões num processo de deslocalização dos seus fluxos comerciais para novas latitudes.

Por agora Trump dá ao mundo a ideia de uma barata tonta. Aumenta tarifas, baixa tarifas, suspende tarifas. E retira tarifas a certos produtos! Chicoteia verbalmente uns mercados, passa a “mão pelo pêlo” a outros. Insulta, elogia, ofende, líderes mundiais sem qualquer critério. Não sabemos para onde caminham os Estados Unidos liderados (?) por este homem imprevísivel e desordeiro que não consegue encontrar um rumo sensato e seguro para os Estados Unidos e que está a provocar uma nova desordem mundial.

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