O cancro colorretal é um dos tumores mais frequentes em Portugal, com mais de 10.000 novos casos diagnosticados anualmente. É a segunda principal causa de morte por cancro no país, afetando homens e mulheres, sobretudo a partir dos 50 anos. No entanto, nos últimos anos, tem-se observado um aumento da incidência em pessoas mais jovens, o que torna a vigilância médica ainda mais essencial.A boa notícia é que o cancro colorretal pode ser prevenido e tratado com sucesso quando detetado precocemente. A maioria dos casos surge a partir de pólipos – pequenas formações na parede do intestino – que podem evoluir para tumores malignos. A realização de exames de vigilância, como a colonoscopia, permite identificar e remover estes pólipos antes de se tornarem cancerígenos.Os principais sinais de alerta incluem alterações no trânsito intestinal, sangue nas fezes, dor abdominal persistente e perda de peso inexplicada. Estes sintomas devem ser valorizados e investigados precocemente. Recomenda-se que todas as pessoas a partir dos 50 anos realizem rastreio, podendo esse início ser antecipado se houver antecedentes familiares.Apesar dos avanços, o diagnóstico do cancro colorretal ainda enfrenta desafios. Muitas pessoas adiam a realização de exames devido ao receio do procedimento ou à ausência de sintomas iniciais. O estigma associado às doenças do intestino também contribui para que muitos casos sejam diagnosticados em fases avançadas, quando o tratamento é mais complexo.O tratamento depende da localização e do estádio da doença. Nos tumores do cólon, a cirurgia é geralmente o primeiro passo, podendo ser complementada com quimioterapia. No caso dos tumores do reto, a abordagem pode incluir radioterapia e quimioterapia antes da cirurgia, permitindo cirurgias menos invasivas e, em alguns casos, evitando a necessidade de uma colostomia definitiva.Nos últimos anos, a cirurgia robótica tem revolucionado o tratamento do cancro colorretal. Esta tecnologia permite uma maior precisão nos movimentos do cirurgião, reduzindo o risco de complicações e promovendo uma recuperação mais rápida para os pacientes. Comparada com a cirurgia aberta tradicional, a abordagem robótica resulta em menos dor pós-operatória, menor perda de sangue e um tempo de internamento hospitalar reduzido.Além disso, a robótica é especialmente vantajosa em cirurgias do reto, onde o espaço anatómico é mais restrito. A precisão dos instrumentos robóticos permite preservar melhor as estruturas nervosas, reduzindo o impacto na qualidade de vida do paciente, nomeadamente em termos de continência e função sexual.A batalha contra o cancro colorretal começa na prevenção. A adoção de um estilo de vida saudável, com uma alimentação rica em fibras, prática regular de exercício físico e evitando o tabaco e o consumo excessivo de álcool, pode reduzir o risco da doença. No entanto, o fator mais determinante é a adesão aos programas de rastreio.O diagnóstico precoce salva vidas. A medicina tem evoluído, oferecendo tratamentos cada vez mais eficazes e menos invasivos, mas cabe a cada um de nós estar atento aos sinais do corpo e não adiar a vigilância médica. Porque, quando diagnosticado a tempo, o cancro colorretal tem uma taxa de cura superior a 90%.Coordenador de Cirurgia Geral do Hospital CUF Descobertas