A importância da História
Os teatros de operações políticas a que temos vindo a assistir nos últimos três anos desde a invasão da Rússia na Ucrânia tem demonstrado, do ponto de vista analítico, que nunca foi tão importante sabermos História como agora. Compreender a mentalidade russa, o seu complexo de superioridade face aos outros povos, principalmente os seus vizinhos, e a frustração da queda do seu império, primeiro, e o monstro soviético, depois, são fundamentais para equacionar os próximos movimentos. Evidente que, estudando todo o comportamento de Vladimir Putin ao longo destas décadas - desde o que disse, o que prometeu, nunca cumpriu e os vários momentos da sua visão estratégica para readquirir um império russo à sua imagem - contribui para fazer previsões, por mais estapafúrdias que, à partida, pareçam ser, aos seus movimentos futuros. Algo é garantido: ele engana, dissimula e nunca se poderá contar com o que promete, porque cumpre apenas a sua agenda imperialista.
Um dos problemas de Trump ao lidar com este conflito é a sua ganância económica, como foi possível inferir a partir das negociações pelas terras-raras ucranianas. Mas o mais perigoso de todos os problemas que existem à partida em Trump será, provavelmente, a sua veia narcísica. O facto de estar plenamente convencido que dita as ordens mundiais, como era o papel dos Estados Unidos durante os tempos da Guerra Fria, têm lhe toldado a visão dos verdadeiros acontecimentos. Está tão convencido que, quando diz algo, todos obedecer-lhe-ão, que levou alguns meses - e muita estupefacção - para visionar, finalmente, que Putin só faz o que quer. Não importa o que poderá combinar com ele ao telefone, ou com um aperto de mão aqui e ali. Putin invadiu a Ucrânia para a dominar e não vai parar enquanto a Ucrânia não ceder. Ou o último “voluntário” coreano cair, depois de os soldados russos já não restarem para carne-de-canhão. Ele tem um propósito, nada o demoverá. E tem de ser parado, ou o precedente aberto é a caixa de Pandora, mas já sem a esperança lá dentro.
Será que Trump, finalmente, viu isso?
Professora auxiliar da Universidade Autónoma de Lisboa e investigadora (do CIDEHUS).
Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico