A dois meses das eleições autárquicas, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, decidiu envolver-se nas eleições do Sport Lisboa e Benfica, que têm a primeira volta marcada para 25 de outubro. Não foi sem alguma estupefação que o vimos participar esta semana numa sessão promovida pelo presidente do Benfica, que é também assumido candidato à reeleição, no quadro de mais de meia dezena de candidatos, para o lançamento de um projeto de profunda reformulação do recinto e da zona envolvente ao Estádio da Luz. Fê-lo, além do mais, de forma encomiástica e superlativa para o atual presidente do Benfica, o que não deixou de chocar vários dos outros candidatos ao lugar, numa clara interferência no momento eleitoral do clube, o que não fica bem ao edil de Lisboa. Em breve, ver-se-á se tal atitude não terá sido feita em busca de uma reciprocidade, o que também não seria compreensível… Sem resolver os problemas de fundo da nossa cidade, mas também aqueles pequenos problemas que afetam a vida quotidiana dos lisboetas, o atual presidente não perde uma oportunidade para se mostrar, num permanente estado de campanha eleitoral, usando e abusando da sua condição de presidente de Câmara, quando já é candidato assumido às eleições autárquicas de 12 de outubro. O estado da cidade é aquele que se vê. Um problema gravíssimo na habitação. Esta semana soube-se que, só no primeiro trimestre deste ano, os preços das casas aumentaram 18,7% relativamente ao mesmo período do ano passado, liderando de longe os aumentos no quadro da União Europeia. Moedas herdou vários projetos completamente finalizados para a construção de casas de rendas acessíveis (no Bairro Alto, por exemplo), que continuam sem sair do papel, o que é um verdadeiro escândalo numa cidade onde é cada vez mais difícil encontrar casas para a classe média. A sua atitude perante o crescimento do Alojamento Local (que, objetivamente, retira do mercado muitas casas que podiam servir para alojar famílias de lisboetas ou de pessoas que queiram morar na cidade de forma permanente) foi sempre da mais absoluta complacência. Um problema gravíssimo na fiscalização de vários abusos que põem em causa a qualidade de vida de muitos habitantes da cidade, com horários de funcionamento abusivos de vários estabelecimentos noturnos, com a venda de álcool nas ruas até horas inadequadas, com barulho pela noite dentro em várias zonas. Um problema gravíssimo na iluminação pública, com centenas de luminárias avariadas, gerando uma perceção de insegurança. Um problema gravíssimo com o estado das ruas, com zonas em que a degradação dos pisos já atingiu os máximos, agravando os problemas de segurança rodoviária. Um problema gravíssimo com a limpeza, onde a recolha de resíduos continua a estar abaixo dos mínimos necessários. Um problema gravíssimo nos transportes, com a gradual perda de qualidade dos serviços prestados pela Carris, bem visível ao longo destes quatro anos. Lisboa é hoje – depois de 4 anos de Carlos Moedas - uma cidade com casas mais caras e com menos habitantes. É uma cidade mais “entupida” com o trânsito, com ruas em pior estado. É uma cidade menos limpa e mais desmazelada. Em resumo, é uma cidade menos amiga dos que nela vivem. Este é o balanço deste mandato da CML, pese algum esforço em maquiar a realidade, sem resolver os problemas de fundo. A regra é a superficialidade e, em vez de resolver problemas das pessoas, a aposta é no domínio das relações públicas, da imagem e da comunicação (veja-se a quantidade e o valor dos contratos estabelecidos pela CML nestas matérias). A imagem sempre à frente da substância. Eis o “método Moedas”.