Um exemplo de cidadania e uma presença surpreendente na cerimónia de tomada de posse do presidente do Comité Olímpico de Portugal, Fernando Gomes.A tarde de terça-feira passada reservou-nos dois belos temas de conversa que fugiram aos assuntos habituais e, ao mesmo tempo, mostraram que quando pensamos existirem já poucas coisas para nos surpreender há sempre alguém a esforçar-se por consegui-lo.Comecemos pelo elogio: um grupo de moradores da Avenida 5 de Outubro, em Lisboa, contesta o abate de 25 jacarandás e o transplante de mais 20 para que seja possível a construção de um parque de estacionamento subterrâneo integrado na chamada Operação Integrada de Entrecampos, que mais não é que o nome oficial do projeto de urbanização dos antigos terrenos da Feira Popular.Descontentes com a decisão da autarquia liderada por Carlos Moedas, os moradores daquela rua iniciaram uma petição que ao início da tarde de quarta-feira (dia 26) já reunia mais de 45 mil assinaturas. Neste documento deixam várias perguntas para as quais gostariam de ter respostas. Este é um exemplo de cidadania que deveria ser mais replicado no país e que já teve uma consequência: a vereadora com o pelouro do Urbanismo, Joana Almeida, marcou duas sessões de esclarecimento - amanhã (dia 28) e na próxima quarta-feira - sobre o projeto imobiliário previsto para a zona.A ideia de quem comprou o terreno - a seguradora Fidelidade - até pode ir avante, mas ao menos os habitantes daquela zona de Lisboa fizeram os autarcas “descer” ao terreno e falar sobre o assunto. E só isso já merece aplausos e elogios.Em sentido contrário surgiu a decisão do diretor nacional da Polícia Judiciária, Luís Neves, em associar-se à cerimónia de tomada de posse de Fernando Gomes como presidente do Comité Olímpico de Portugal para garantir que este nada tem a ver com a investigação ao negócio da venda da antiga sede da Federação Portuguesa de Futebol situada na Rua Alexandre Herculano, em Lisboa, em que já foram constituídos arguidos duas pessoas.Não sei se o responsável da PJ ficou surpreendido pelo timing da divulgação da investigação - por coincidência no dia em que Fernando Gomes assumiu o cargo no COP - ou se vai passar a explicar quem é ou não arguido em todas as operações da Judiciária. O certo é que a sua ida à cerimónia pareceu extemporânea. Demasiado até. Editor executivo do Diário de Notícias