O 8 de janeiro de 2023, a invasão e depredação do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal do Brasil, foi o primeiro sintoma de que a extrema-direita do Brasil, apesar de usar o nome de Deus numa de cada duas frases, tem fé de verdade é em Donald Trump. Plagiou, sem pudores, a invasão e depredação do Capitólio de dois anos e dois dias antes, na esperança de derrubar Lula da Silva, eleito numa vitória sobre Jair Bolsonaro no novembro anterior, mesmo sabendo que esse expediente criminoso não tinha funcionado a favor de Trump contra Joe Biden. Se isto não é fé, o que será?Essa fórmula não funcionou, concluíram os fanáticos, porque o republicano não estava no poder - estivesse ele na Casa Branca e o golpe de estado, planeado passo a passo, incluindo com envenenamento de Lula e do vice Geraldo Alckmin no menu, teria dado certo.Vai daí, a reboque da eleição de Trump em 2025, a extrema-direita renovou fé e orações no divino apresentador de The Apprentice. O deputado Eduardo Bolsonaro mudou-se para os EUA, exercendo o mandato parlamentar por teletrabalho, para investir no lóbi a favor do aumento exponencial das tarifas comerciais aos produtos brasileiros. A estratégia do terceiro filho de Jair era, sob o patrocínio de Marco Rubio e demais radicais, vincular um relaxamento nas tarifas à diminuição ou até anulação da eventual condenação do pai por golpe.As consequências foram dramáticas: Bolsonaro acabou mesmo condenado a mais de 27 anos de prisão; e, Lula, que já havia saído com a capa de agente pacificador da nação após o vandalismo de 8 de janeiro, vestiu de vez a roupa de defensor da pátria ao negociar com Trump, que se vem declarando encantado com o homólogo brasileiro, a distensão do ímpeto tarifário de Washington para alegria dos grandes industriais e agricultores, por natureza próximos, até então, do bolsonarismo.Ou seja, imitar a estratégia violenta do ataque ao Capitólio falhou. E tentar uma espécie de golpe contra a economia do próprio país, também. Qualquer um, por mais crédulo ou crente que fosse, concluiria que recorrer a Trump não cura. Mas não o bolsonarismo puro e duro que, muito além da credulidade ou da crença, vive no campo do fanatismo. Vai daí, aposta outra vez as fichas no santificado presidente dos EUA. A extrema-direita tropical vai tentar incluir num projeto de lei, nascido a reboque da janela de oportunidade eleitoral que a megaoperação em favelas do Rio de Janeiro abriu, a palavra “terrorismo” associada às organizações criminosas brasileiras. Essa denominação, inútil do ponto de vista prático segundo os especialistas, é só para americano ver: como a Casa Branca agrediu a Venezuela com base na recente Ordem Executiva 14157 de Trump, que classifica os cartéis de drogas como organizações terroristas, o bolsonarismo acredita, em nome do pai, do filho e do Tio Sam, que os EUA, caso Comando Vermelho e PCC sejam assim rotulados, podem golpear também o Brasil de Lula, em 2026, ano eleitoral. Haja fé.Jornalista, correspondente em São Paulo