A Europa é Fraca?

Publicado a

De há muito tempo a esta parte, vários sectores anti-europeístas têm argumentado que a Europa é fraca, não tem capacidade negocial no concerto internacional, enfim, não tem um papel relevante em qualquer processo negocial global.

Há cerca de sete meses realizou-se uma Cimeira entre Zelensky e Trump na Casa Branca em que o Presidente americano pressionou o Presidente ucraniano no sentido de aceitar a rendição proposta por Putin e, como é sabido, tal não foi aceite pelos europeus, bem como pelo próprio Zelensky.

Volvidos sete meses, a Ucrânia já se rendeu?

Não, não se rendeu e Putin pouco avançou na Ucrânia.

E se tal aconteceu foi graças ao apoio de Trump à Ucrânia?

Não, não foi.

Foi graças, apenas, à resiliência do povo ucraniano?

Não, não foi.

Foi, também e em larga medida, graças ao apoio europeu.

A Rússia pouco avançou no terreno, os ucranianos não se renderam e a economia russa não melhorou em relação à situação existente há sete meses atrás.

E se tudo isso aconteceu foi, em larga medida, graças à posição adoptada pela Europa.

A Europa é assim tão fraca como se diz?

A Europa tem sido forte e corajosa.

Tem-se dito que a Europa foi fraca na negociação de tarifas com os EUA.

Também o autor do presente artigo teria preferido um resultado final diferente do que o que ocorreu neste domínio.

Mas, sou dos que entendem que a Europa revelou muito mais coragem ao não aceitar a rendição da Ucrânia proposta por Trump do que a que revelaria ao não aceitar a negociação que viria a concretizar com os EUA sobre tarifas.

Para a Europa é importante haver uma boa gestão de expectativas em relação à existência de uma definição das tarifas aplicáveis, evitando-se uma situação de incerteza que afectasse, nomeadamente, a taxa de inflação interna e a motivação dos agentes económicos, em termos de investimento.

A Europa tem, por conseguinte e em termos globais, sido corajosa.

Mesmo quando se afirma que a Europa não tem estado bem na questão do Médio Oriente, tal não corresponde, por inteiro, à realidade.

A Europa condenou a invasão da Ucrânia pela Rússia e actuou sempre em coerência com essa tomada de posição inicial.

No conflito entre o Hamas e Israel, quem tomou a iniciativa do primeiro ataque foi o Hamas que, aliás, foi condenado pela comunidade internacional. Não foi Israel.

Israel estava no direito de se defender, desencadeando as iniciativas tidas como necessárias à sua defesa.

No contexto mais geral das iniciativas desencadeadas por Israel, foram cometidos diversos exageros, condenáveis, que os países europeus e a UE denunciaram.

E tudo isto sendo certo que existem problemas na Europa resultantes da responsabilidade moral que muitos europeus sentem pelo facto de o Holocausto ter acontecido no seu próprio Continente.

Não se torna fácil para muitos europeus adoptar uma posição crítica em relação a uma comunidade que viveu uma situação do género num Continente que foi, precisamente, o Europeu.

Mas, volvidos três anos de avisos sucessivos da UE e de diversas condenações nas Nações Unidas, com o voto favorável de países europeus, a referida UE enveredou por uma posição que pode levar à suspensão do Acordo de Associação com Israel e ao reconhecimento do Estado Palestino, num contexto de manifesta discordância com o governo israelita.

Daí que não faça sentido, numa perspectiva dinâmica, dizer-se que a UE adoptou sempre uma posição de “dois pesos, duas medidas”.

Tal não corresponde, por inteiro, à realidade.

Quando na liderança do Mundo Ocidental está alguém que pouco ou nada diz sobre a invasão de drones russos na Polónia e na Roménia, que mente ao dizer que no passado já aplicou sanções fortes à Rússia (que não é verdade, pois quem o fez foi Joe Biden), que afirma que só aplicará sanções à dita Rússia desde que todos os países da NATO o façam (quando se sabe que países como a Hungria e a Eslováquia são contra as mesmas), que já está a abdicar do apoio a Taiwan, enfim, que não está comprometido com os seus aliados europeus e mundiais, a não ser que os mesmos paguem e paguem mesmo muito bem, ter a coragem de tomar uma posição clara e determinada como a Europa tem tomado é um claro sinal da sua grandeza.

E é, também, uma manifestação de pequenez de quem não compreende esse sinal.

Nem mais, nem menos…

Economista e professor universitário. Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico

Diário de Notícias
www.dn.pt