A Marcha da Insensatez, livro escrito pela historiadora norte-americana Barbara W. Tuchman, se baseia em uma pesquisa histórica para analisar o fenómeno paradoxal de como os Governos perseguem, por determinados períodos, políticas contrárias aos próprios interesses nacionais. Segundo ela, “a primeira característica dessa insensatez política é o repúdio à razão”..No caso da Guerra da Ucrânia, a insensatez política e o repúdio à razão têm-se mostrado bastante evidentes. Primeiro, na recusa dos EUA e seus aliados de levarem em conta a posição russa contra a expansão da NATO, particularmente o convite, em 2008, para que a Ucrânia e a Geórgia entrassem para a Organização. Os avisos de Moscovo e de alguns políticos, diplomatas e analistas norte-americanos e europeus foram ignorados..Posteriormente, a recusa da Ucrânia em dar prosseguimento aos Acordos de Minsk I e II, assinados com a Rússia, respectivamente, em 2014 e 2015, com a mediação da Alemanha e França, que poderiam ter evitado a guerra e garantido a integridade territorial, apesar das concessões políticas que a Ucrânia teria de fazer em relação às regiões ucranianas envolvidas no conflito..Em seguida, a recusa dos EUA, às vésperas da invasão, em negociar com a Rússia um acordo sobre a Ucrânia, que levasse em conta as preocupações de Moscovo em relação à sua segurança..E logo depois da invasão, a recusa do presidente Volodymyr Zelensky em continuar as negociações de paz iniciadas na Bielorrússia e depois na Turquia, no início de 2022..Finalmente, o apoio dos EUA e seus aliados à fantasiosa ideia de Zelensky de que seria possível uma vitória militar contra um adversário com cerca de três vezes a população da Ucrânia, muito mais forte económica e militarmente e que, além do mais, contava com o apoio de grande parte da população das áreas ucranianas invadidas..Essa marcha da insensatez tem deixado um rastro de milhares de mortos e feridos, uma intensa crise de refugiados e de deslocamento populacional e um imenso custo financeiro e material para os dois países, com repercussões políticas e económicas na Europa e, até mesmo, no âmbito global..Apesar destas funestas consequências, alguns políticos europeus preferem continuar a marcha da insensatez, afirmando que não está descartada uma intervenção da NATO com tropas para lutar contra a Rússia, no que poderia resultar em um confronto com armas nucleares. O presidente da França, Emmanuel Macron, em uma tentativa de ganhar protagonismo político, faz afirmações alarmantes sobre o futuro da Europa caso a Rússia vença o conflito com a Ucrânia..A História mostra que os governantes passam, mas a importância da geografia continua. A Rússia estará sempre com parte importante do seu território na Europa. Ao invés de manter os olhos no passado e na construção de cenários apocalípticos, os governantes europeus deveriam buscar uma forma de interromper a marcha da insensatez e buscar uma saída diplomática para negociar uma paz na Ucrânia que levasse em conta as preocupações de segurança dos dois lados em conflito. Este seria um primeiro passo para construir uma segurança europeia menos dependente dos interesses norte-americanos..Assim sendo, a Europa poderia se dedicar com mais afinco para alcançar o objetivo de “promover o progresso económico e social... e uma união cada vez mais estreita entre os povos da Europa”, conforme preconizado no Tratado de Maastricht.