Nesta sessão plenária do Parlamento Europeu, em Estrasburgo, votamos a nova estratégia da União Europeia para a Inteligência Artificial (Artificial Intelligence Act). Em causa estão três objetivos fundamentais: delinear um conjunto de requisitos mínimos que sejam simples para os fornecedores, mais claros; garantir aos utilizadores que as tecnologias existentes no mercado cumprem as normas e valores europeus; e proteger os consumidores de violações da sua segurança e direitos fundamentais..O ponto mais polémico da discussão será uma iniciativa, promovida por alguns deputados, que visa proibir a utilização de tecnologias de reconhecimento facial em tempo real, mesmo em casos de crimes graves, pessoas desaparecidas e terrorismo. O Partido Popular Europeu, no qual me integro, irá votar contra essa emenda, que nos parece incompreensível quando aplicada aos casos acima descritos. Mas, no geral, espera-se consenso sobre um assunto muito importante para o futuro da Europa..O tema da Inteligência Artificial (IA) generalizou-se no debate público após o lançamento do modelo de linguagem ChatGPT o qual, pela sua facilidade de utilização, deu a muitas pessoas uma visão real do potencial desta tecnologia. Não é o único modelo de linguagem - existe até um desenvolvido em Portugal, a Albertina. Nem é a única ferramenta que recorre à chamada Inteligência Artificial generativa para produzir conteúdos novos a partir de informação existente em bases de dados. Existem, por exemplo, aplicações semelhantes capazes de gerar vídeos e imagens hiper-realistas e até de produzir quadros de grandes mestres que nunca foram pintados. Mas não há dúvida que o ChatGPT veio abrir o tema da Inteligência Artificial à sociedade civil. E isso é positivo, porque contribui para desmistificar ideias preconcebidas e centrar o debate no que mais importa..Desde logo, no facto de a IA ter chegado para ficar. De acordo com um estudo divulgado recentemente pela International Data Corporation, é de longe o setor das chamadas Tecnologias de Informação que mais cresce, a um ritmo quatro vezes superior ao das restantes. No período 2021-26, estima-se que o investimento a nível mundial atinja perto de 280 mil milhões de euros. Em Portugal, este valor rondou os 300 milhões de euros em 2022..É uma aposta que acontece devido ao potencial extraordinário da IA como ferramenta de desenvolvimento económico e social dos países, mas também como aliada ao serviço de objetivos fundamentais, tais como o combate às alterações climáticas. Desde os serviços de Saúde à produção de energia e à agricultura, não há setor onde esta tecnologia não tenha impacto..Também no facto de, como acontece com todas as inovações disruptivas, a Inteligência Artificial implicar transformações importantes na organização da sociedade, pondo em causa o futuro de algumas profissões e exigindo a reformulação de outras, mas também criando novos empregos e atividades de elevado valor acrescentado. Há que acautelar esta transição..E ainda, sem dúvida, o facto de a Inteligência Artificial trazer consigo novos riscos, além do potencial para agravar problemas já existentes, como as fraudes e as campanhas de manipulação. Também por isso, aprovamos esta iniciativa legislativa, na qual a União Europeia será pioneira a nível mundial. Mas o principal esforço passará pela capacitação dos cidadãos e pela promoção da literacia digital..A Inteligência Artificial já faz parte das nossas vidas, estando presente nos motores de busca que utilizamos, nas plataformas de vendas online que pesquisamos, nos filtros que nos protegem de spam e conteúdos impróprios, mas também, na nossa indústria, empresas e serviços públicos. Vai continuar a crescer e cabe-nos assegurar que aproveitaremos plenamente as suas vantagens, reduzindo ao mínimo os riscos..Eurodeputada