Lando Norris sagrou-se, este domingo, campeão mundial de Fórmula 1, pela primeira – e, acredito, pela última – vez. Houve muita emoção, muitas lágrimas, muitos abraços e champanhe e tudo aquilo a que uma vitória tem direito exceto, talvez, o mérito. O britânico ganhou porque a pontuação assim o ditou, mas todos sabem, ele incluído, que não foi o melhor piloto da temporada. Norris não é, sequer, o segundo melhor piloto da grelha.Como uma vitória não se faz sozinha, o jovem inglês teve a sorte de ter o melhor carro desde o início da época – acabando o campeonato num inexplicável terceiro lugar, depois de um Grande Prémio onde não passou além da quarta posição – e de ter o melhor companheiro de equipa que podia pedir. Oscar Piastri é melhor piloto, mas joga em equipa o que foi fundamental para o título de Norris. Até porque conseguir não chegar ao pódio com o melhor carro em corrida, não é para todos.Para quem não acompanha o desporto, importa saber isto: o tetracampeão – e atual melhor piloto da grelha – Max Verstappen, chegou a ter mais de 100 pontos de diferença para Lando Norris. Na corrida de domingo, se Norris tivesse acabado em quarto lugar, Verstappen teria garantido o quinto título de campeão do mundo, depois de uma recuperação estrondosa no final da temporada, apesar de conduzir, durante toda a temporada, um carro que claramente não o quis ajudar.Já um campeão do mundo que, tendo o melhor carro, não consegue manter a diferença substancial dos outros concorrentes é, claramente, uma falácia. Tal como acontece atualmente em várias áreas, a vitória de Lando parece reforçar a teoria de que não ganha quem é melhor, mas sim quem é “mais esperto”. Quem consegue passar pelos pingos da chuva, usando os outros – no caso, a equipa, o companheiro de corrida e a sorte – para chegar a um lugar que, na verdade, não lhe pertence. Tal como acontece com empresas, com líderes nacionais e mundiais, com gestores, atualmente o mundo parece estar organizado para uma intensa democratização do sucesso e da vitória. Como se todos tivessem o direito a saboreá-los. Infelizmente, não têm – e basta ler alguns livros de História e Política, no caso de não estarmos atentos ao momento presente, para saber que essa democratização da mediocridade dá sempre mau resultado.É claro que Lando Norris ganhar um campeonato de Fórmula 1 não traz, em si, um enorme mal ao mundo – tirando pelo facto de mostrar aos mais novos que os desportos são, muitas vezes, jogos de sorte. Afinal, Portugal também se sagrou campeão europeu de futebol, em 2016, sem ter sido a melhor seleção em campo.Mas como apontava, e bem, um colega meu no domingo, assim que a corrida começou: “Lando ser campeão do mundo, acabando em terceiro (como isto se está a encaminhar para acabar...) será uma das melhores metáforas para a sociedade que criámos hoje em dia”. Uma onde a capacidade, o trabalho, o esforço e o desempenho estão claramente a perder terreno para a popularidade, a sorte e a cada vez mais evidente ausência de sentido crítico.