A cultura do desporto. Ou será a ausência dela?
Portugal conseguiu, até agora, uma Medalha de Bronze e um par de diplomas olímpicos.
Em linguagem que interessa ao português comum, Portugal (só) conseguiu um Campeonato da Europa em 2016. Nas camadas jovens, teria de investigar um pouco mais, mas creio que a contagem seria rápida de se fazer.
No automobilismo tivemos o Lamy e, no motociclismo, temos agora o Miguel Oliveira. Ambos sem títulos. Esforçados, dedicados, mas sem títulos.
No ténis... vamos fazendo boa figura com esforço, mas sem qualquer Grand Slam conquistado.
Aqui ao lado os nuestros hermanos, já têm 4 Europeus e 1 Mundial. E 15 Ligas dos Campeões! E até retiro o Barcelona desta matemática e o Sevilha de outra para a Liga Europa!
Tiveram o Nadal e agora têm o Alcaraz.
Alonso, Marc Marquez e Dovizioso sobre rodas a dar cartas e a ganhar títulos. E basta olhar para as grelhas de partida para que se conte a percentagem de pilotos espanhóis, italianos e... portugueses!?
E no basket? No basket temoso Nemias nos EUA, mas... Espanha tem Campeonatos do Mundo e da Europa e até faz frente aos gigantes da NBA quando se cruzam nas provas internacionais.
Alguma coisa estes nossos vizinhos em Espanha fazem que nós não fazemos e estamos muito longe de o fazer, diria eu. Será nas escolas? Pois não deve ser só nas escolas certamente.
parem que este texto é tudo menos um ataque aos nossos atletas que arrancam campeonatos e medalhas com um esforço e uma dedicação 100 vezes superior a todos os outros! Nada disso!
E porquê? Fácil... Porque não há uma cultura do desporto e da atividade física em Portugal. Ponto! Não há.
E hoje, nem sequer vou falar das artes... apesar de todos sabermos que as artes representam cerca um terço da importância da Matemática no plano curricular dos nossos filhos até ao 9º ano.
O desporto e a atividade física então... é só e apenas, sensivelmente de metade.
A Matemática ajuda no raciocínio. Ninguém discute. E as artes? E a atividade física? Não?
Enquanto que nos 5.º e 6.ºs anos as línguas representam 12 horas de carga horária semanal e a Matemática e as Ciências Naturais 9 horas, a Educação Física representa apenas 3h.
E os mais fundamentalistas dirão, interessa mais saber correr, nadar e dar cambalhotas ou ler? Eu diria... todos eles! Melhor ainda, e ler enquanto se dá uma cambalhota?
Nos 7.º, 8.º e 9.ºs anos a coisa ainda fica mais feia. O Português recebe 5h semanais, o Inglês 5 ou 6h, dependendo do ano e a Educação Física... apenas outras 3h.
Ahh e a Educação Visual fica-se por uma miserável hora e meia... mas isto hoje é sobre atividade física. Não é sobre as artes! Adiante...
O exercício físico aumenta a capacidade do cérebro de se adaptar e criar novas conexões, e a criar mais e melhores sinapses, que é como quem diz, aumenta a neuroplasticidade intelectual e a nossa capacidade de aprendizagem.
Mas não! Que se entupam as crianças de somas e subtrações, que se lhes retire a possibilidade de ciarem e serem inovadores, abolindo quase por completo as artes e, melhor ainda, quem disse que os miúdos precisam de se mexer? Mexam os lápis a resolver equações e leiam Diários de Um Banana sentados num sofá.
Porque é isso que os vai transformar em gestores e engenheiros! Sedentários e anafados nos seus gabinetes. E sem medalhas!
Porque é isso que os vai transformar em gestores e políticos, sem criatividade, sem elasticidade para gerir este país. Sem intelecto para perceber que o desporto e a atividade física (e as artes!) podem ser motores para termos mais e melhores atletas. Para mais e melhores gestores. Para mais e melhores pessoas.
E quem sabe, até, se não ganharíamos mais uma ou outra medalha ou mais um ou outro Europeu!
Seria bom, não?