A coragem de largar o que nos prende

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Já todos ouvimos falar daquele elefante que, aprisionado uma vida inteira, cresceu sem conhecer a liberdade. Tentou libertar-se quando era ainda pequenino e não conseguiu. Aprendeu, então, a viver assim. Já adulto, e com força suficiente para partir a corrente que o prende, mantém-se quieto junto à mesma. Deixou de tentar e desistiu.

Quantos de nós estamos como este elefante, presos por correntes (ainda que invisíveis aos olhos) que podemos partir, mas nem sequer o tentamos fazer?
As amarras que nos prendem podem ser muito diversas. Um emprego frustrante ou sem perspetivas, uma relação tóxica de desamor ou violência, uma família disfuncional que nos suga e maltrata, uma sociedade doente que nos adoece. Sejam que amarras forem, a verdade é que o medo sentido é de tal forma forte e poderoso que nos impede de largar. Falamos, por exemplo, do medo do desconhecido, de ficar sozinho, de não pertencer a algo ou alguém, dos juízos de valor por parte das outras pessoas, de não ser aceite por todos…

E se é verdade que, em certas circunstâncias, o medo nos protege, também é verdade que, na maior parte das vezes, mais não faz do que limitar as nossas escolhas e ações. Paralisa-nos e mantém-nos submissos, tal e qual o elefante da nossa história.

Sabemos que o medo é muito assustador e não é por acaso que a maioria das crianças o representa graficamente como tendo uns grandes olhos esbugalhados e um corpo todo preto. De braços abertos, o medo quer envolver-nos e anular-nos. E planta na nossa cabeça pensamentos igualmente negros, que originam ainda mais medo, engaiolando-nos num ciclo que se perpetua.

Largar o que nos prende exige, em primeiro ligar, o reconhecimento de que algo nos mantém onde não queremos estar. Depois, sim, é preciso coragem para enfrentar esses medos e puxar a corrente. E porque algumas correntes são mesmo muito fortes e pesadas, é preciso pedir ajuda - quando temos aliados, a nossa força aumenta de uma forma extraordinária!

O que faria o elefante se, já em adulto, conseguisse soltar-se? Imagino que não iria muito longe e que se mantivesse junto do seu cativeiro. Afinal de contas, sempre ali foi a sua vida. Confuso, precisaria seguramente de ajuda e incentivo para, gradualmente, se ir aventurando na descoberta daquela que seria, agora, a sua nova liberdade. Porque todos precisamos de ajuda para arriscar.

Este artigo não é sobre elefantes, nem sobre as correntes de ferro que os aprisionam. É sobre todos nós e as correntes emocionais que nos algemam.

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