A clarificação cada vez menos clara
A caminho das eleições legislativas, precipitadas por uma crise política - mais ou menos ensaiada -, a clarificação é cada vez menos clara. A redundância política está, assim, instalada, pela indefinição crescente e pela incógnita estabelecida em relação ao dia seguinte às eleições.
Os pequenos partidos, sobretudo os que gozam de assento parlamentar, têm conseguido passar as suas ideias, com destaque para o sucesso comunicacional e de marketing da Iniciativa Liberal, cujo profissionalismo de ação lhe permite evidenciar-se.
No polo negativo deste universo dos novos protagonistas, continua André Ventura e o Chega, sem abdicarem do radicalismo que capitaliza os excessos de expressão e o défice de pensamento política estruturado e de bom senso.
Assim, a retórica dos polos extremos do espetro político nacional esgrime-se na disputa pelo terceiro lugar, que em certos momentos desta campanha parece surgir como o assunto e a posição mais importantes do resultado eleitoral. De facto, em termos práticos, independentemente do que poderá valer para a performance e para a afirmação do Bloco de Esquerda ou do Chega, o terceiro lugar importa ao país, ainda que muitos eleitores desvalorizem o facto, por distração e ignorância política ou pela dedicação ao voto útil entre o PS e o PSD. Sem dúvidas, a terceira força política mais votada contará para o país, sobretudo depois do precedente que a geringonça abriu em 2015, e que determinará a preponderância da esquerda ou da direita no cenário pós-eleitoral.
Creio que até aqui o país não tinha vivido ainda umas eleições cujas sondagens merecessem tanta atenção e protagonismo por parte dos candidatos e dos eleitores, ao mesmo tempo.
Costa e Rio estão, entre si, por pouco, alternando o primeiro e o segundo lugar, ora um, ora outro, em cada sondagem publicada.
Não há dúvidas que a Direita partiu para estas eleições numa posição mais frágil, porque mais desorganizada, mas o PSD entrou na campanha mais forte, mais coeso e mobilizado e o CDS arrancou para estes 15 dias prévios do ato eleitoral com a sua oposição interna publicamente silenciada, à espera do desfecho. Contudo, Nuno Melo e os seus farão, certamente, ouvir-se a partir da noite eleitoral.
Rui Rio vive sob o fantasma do Chega, não só pela dedicação de Ventura ao seu próprio catolicismo político e à correspondente devoção dos seus seguidores, mas sobretudo pela incapacidade que tem tido de agregar o eleitorado flutuante e o voto útil no PSD.
Todos os eleitores - com interesse em exercer o seu direito de voto - procurarão a estabilidade política. Não obstante esse desígnio comum entre os portugueses votantes, cada um procurará o seu propósito de estabilidade.