Numa semana de plenário particularmente intensa no Parlamento Europeu, com votos que vão desde o Certificado Verde Digital da COVID-19, ao acordo que define a futura relação entre a União Europeia e o Reino Unido, a adoção do novo programa-quadro dedicado à investigação científica e à inovação, o Horizonte Europa, dificilmente terá a visibilidade que merecia na agenda mediática..E será uma pena se assim acontecer porque, em cima da mesa, está muito mais do que a garantia de financiamento para os projetos de inúmeros investigadores, inovadores e instituições públicas e privadas contemplados que abrange. Os 95, 5 mil milhões de euros do Horizonte Europa - que fazem deste o maior programa de ciência e inovação da história, em todo o mundo - não têm como objetivo final subsidiar pessoas ou instituições e sim investir em soluções fundamentais para o nosso futuro comum..Através do anterior programa-quadro, convém lembrá-lo, foi cofinanciado o projeto de investigação que conduziria a uma das vacinas contra a COVID-19. Esse é apenas um exemplo recente do impacto da aposta nestas áreas. E o Horizonte Europa terá um papel reforçado no desenvolvimento de soluções, no domínio da saúde, que nos permitirão virar definitivamente a página desta pandemia, prepararmo-nos melhor para futuras crises, e enfrentar outros flagelos comuns a todos os Estados-membros, desde as doenças cardiovasculares ao cancro..Mas este novo programa, que resultou de uma longa e árdua batalha travada pelo Parlamento Europeu, incluindo com os Estados-membros, no Conselho, será igualmente crucial para a recuperação europeia, para a criação de empregos e para melhor preparar as nossas sociedades e as nossas empresas, das multinacionais às PME, para os desafios que temos pela frente..O Horizonte Europa está intimamente ligado aos grandes pilares europeus para as próximas décadas, em particular às transições verde e digital. Não alcançaremos as metas da neutralidade carbónica sem um forte e continuado investimento em ciência e inovação, que nos permita potenciar e desenvolver novas fontes de energia renovável, como o hidrogénio, implementar a economia circular ou fazer da captura de carbono uma realidade. Não teremos uma Europa mais resiliente e competitiva, capaz de se continuar a afirmar perante potências.como a China ou os Estados Unidos, sem criarmos as condições - em termos de infraestruturas físicas, desenvolvimento de tecnologias e qualificação dos nossos cidadãos - para embarcarmos decididamente nesta nova revolução industrial iniciada pelo digital, pela Inteligência Artificial, pela robótica..Nesta terça-feira foi aprovado no Parlamento Europeu um relatório, do qual fui autora, com as novas prioridades estratégias do Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia (EIT). O EIT é parte do Horizonte Europa, mas dispõe de grande autonomia estratégica. Cobre todo o chamado triângulo do conhecimento - Educação, Ciência e Inovação, tendo com principal objetivo oferecer soluções inovadoras para a economia e para a sociedade. Abrange quase todas as grandes áreas, incluindo Clima, Saúde e Energia, e no relatório conseguimos ver aprovadas duas novas comunidades, ambas particularmente relevantes para países como Portugal: uma sobre setores e indústrias culturais e criativos e outra sobre água, ecossistemas marinhos e marítimos..Conseguimos também introduzir medidas que tornarão o EIT mais transparente, dinâmico, simplificado e aberto. E impor regras que incentivam um maior equilíbrio geográfico das atividades, já que atualmente apenas cinco países absorvem 73% dos financiamentos concedidos..O Horizonte Europa é um mar de oportunidades. Saibamos aproveitá-las. Se não o fizermos, outros ocuparão o nosso lugar..Eurodeputada do PSD