Nos últimos anos, a “Inteligência Artificial” (IA) tornou-se uma ferramenta de utilização comum. Os líderes das maiores empresas de tecnologia do mundo estão agora focados na corrida para a “AGI”: o céu é o limite! Mas, o que é exatamente a AGI? AGI significa “Inteligência Artificial Geral” (do inglês, Artificial General Intelligence). Ao contrário da IA que conhecemos, que é boa numa tarefa específica (como escrever um email ou reconhecer um rosto), a AGI é um sistema teórico que igualará ou superará os humanos na maioria das nossa tarefas laborais. Será uma IA com a capacidade de pensar, raciocinar, aprender e aplicar a sua inteligência a qualquer problema, tal como um ser humano ou até melhor. A questão que divide Silicon Valley e os decisores políticos em todo o mundo não é se a AGI será alcançada, mas quando o será. Há respostas para todos os gostos. De um lado do debate, temos os líderes dos principais laboratórios de IA, que veem a AGI como iminente. Sam Altman, o CEO da OpenAI (criadora do ChatGPT), tem sido cada vez mais claro ao afirma ter confiança em como construir a AGI e prevê que esta “provavelmente será desenvolvida durante o [próximo] mandato”, sugerindo que os primeiros “agentes de IA” poderão “juntar-se à força de trabalho” já em 2025. O que até já está a acontecer em muitas áreas. Altman não está sozinho. Dario Amodei, o líder da concorrente Anthropic (criadora do Claude), prevê que a “IA poderosa” (o seu termo para AGI) poderá chegar já em 2026. Já Demis Hassabis (Google DeepMind), é menos otimista estimando um período entre 5 e 10 anos, estando a sua credibilidade reforçada pelo Prémio Nobel de Química em 2024 pelo AlphaFold, uma aplicação de IA que revolucionou a biologia. De qualquer modo, na opinião destes três gurus da IA, o resultado é inimaginável: a cura para a maioria das doenças e um crescimento económico sem precedentes. Foi recentemente criado um “Painel Longitudinal de Peritos em IA” (LEAP) que inquiriu 339 dos principais cientistas de computação, economistas e académicos. As conclusões, publicadas este mês novembro, referem que as previsões da generalidade dos inquiridos, fica muito aquém das previsões dos líderes dos laboratórios de IA sobre uma superinteligência artificial iminente. Quando questionados sobre um “cenário de progresso rápido” (definido como IA a escrever romances vencedores do Pulitzer ou a curar cancros de forma independente), os peritos deram-lhe apenas uma probabilidade mediana de 23% de acontecer até 2030. Uma considerável parte dos especialistas ouvidos consideraram mesmo que regulamentações, leis e infraestrutura, podem travar a AGI de uma forma que os seus criadores não estão a considerar. Há, inclusivamente, peritos que acreditam que a rota atual nem sequer leva à AGI. Por exemplo, Yann LeCun, cientista-chefe de IA da Meta e um dos “padrinhos da IA”, entende que os Modelos de Linguagem de Grande Escala (LLMs), que é como sabemos a tecnologia por trás do ChatGPT, Claude, Gemini, Perplexity, etc., não são o caminho para a AGI, porque lhes falta “bom senso” e estão a atingir os seus limites. De qualquer modo, os peritos do painel LEAP preveem impactos profundos da IA num futuro próximo, particularmente nas infraestruturas e no mercado de trabalho. A previsão mediana aponta para que a IA seja responsável por 7% do consumo total de eletricidade dos EUA até 2030 e de 12% até 2040, um aumento drástico face a 1% em 2024. No mesmo período, espera-se que 18% de todas as horas de trabalho nos EUA sejam “assistidas” por IA, um salto significativo dos 4,1% em 2024. A boa novidade é que as conclusões do painel de especialistas contradizem diretamente a narrativa de desemprego em massa, prevendo-se inclusive um crescimento de 2% no emprego de “colarinho branco” até 2030, apontando para o aumento da capacidade de trabalho humana complementada pela IA e não para a substituição em larga escala do trabalho humano. De qualquer modo, a longo prazo, o impacto tecnológico é considerado absolutamente revolucionário. Numa escala de dez pontos, os peritos classificam a IA com um oito, colocando-a ao nível da eletricidade ou do automóvel como uma “tecnologia do século”. No meio de muitas incertezas, o que é claro é que o debate não é já sobre se a IA representará uma profunda transformação na forma como vivemos em geral e como trabalhamos, mas sobre a velocidade com que essa transformação irremediavelmente nos atingirá. Tudo se resume à diferença entre um tsunami que chega entre 2026 e 2030 e uma maré alta que sobe lentamente até 2040. Para os trabalhadores, empresas e governos que tentam planear o futuro, navegar entre a hype e a realidade é o desafio mais crítico do nosso tempo. Advogado e sócio fundador da ATMJ – Sociedade de Advogados