“A Câmara, sou eu”
Numa derradeira reflexão antes da Passagem de Ano, interrogo-me sobre qual o motivo da permanente retórica do senhor edil de Lisboa.
O seu modus operandi assenta em duas linhas. Em primeiro lugar, a linha da pessoalização, do “eu, eu e apenas eu” ou do “eles, eles, a culpa é deles”, criando uma linha dicotómica simples. Quando algo corre bem, independentemente do que seja (e a maior parte das vezes nada tem a ver com a sua ação), utiliza o “fui eu, fui eu, fui eu!” Quando algo corre mal, cria uma persona coletiva imaginária, o “Eles”! O “Eles” pode ser qualquer entidade, pessoa ou grupo de pessoas. Alguém para imputar responsabilidade ou culpa.
Depois temos a linha da propaganda, que apesar de ser transversal a toda a ação efetiva da autopromoção da ideia anterior, tem como objetivo, em si mesma, a construção da figura messiânica anunciada - “aqui estou eu Manuel Acácio” - e dia após dia, numa realidade em que apenas ele habita, se tenta transformar numa figura mítica (uma espécie de unicórnio), acima dos partidos e que está cá para ajudar.
Estas duas linhas anteriores têm como propósito final a concretização da ideia de que estamos numa espécie de purgatório, num sítio perigoso e sem esperança do qual apenas ele nos pode salvar. Todos os que não comunguem do seu ideário são extremistas, elementos bloqueadores da sua missão idílica, numa retórica de vitimização à qual já nos habituou. Apenas ele é o “moderado”, o “salvador”, calçando as suas luvas e socando um qualquer plastron imaginário
Consequência desta permanente retórica do edil de Lisboa, a cidade está no caos!
Lisboa necessita avidamente de ambição, de cuidado e de ideias claras e eficazes.
Lisboa precisa de uma liderança que identifique os problemas e que encontre as soluções e as coloque em prática. Não precisa de retórica oca, nem de sucessivos discursos de desculpabilização.
Os problemas dos lisboetas têm sido sistematicamente ignorados. A habitação? Bloqueada. O trânsito? Bloqueado. O lixo? Bloqueado.
Lisboa tem uma gestão cristalizada na sua inércia, paralisada na sua propaganda e bloqueada na total ausência de ideias e soluções. Passados mais de três anos de gestão Moedas, há uma total ausência de resultados. Não existe rigorosamente nada de novo e de concreto para mostrar. Não há uma obra que tenha sido iniciada por si, um programa da sua autoria. Moedas autobloqueou-se com a sua propaganda e imobilizou Lisboa com a sua incompetência.
Nesta última reflexão do ano, é fácil concluir que a cidade está cansada de conversa vã e retórica inútil. Lisboa está desmazelada, foi abandonada pelo seu presidente e precisa urgentemente de protagonistas novos que queiram fazer parte dos problemas, pois só fazendo parte dos problemas se fará parte das soluções. Lisboa preciso de um presidente que faça. Que faça a sério!