A batalha pelos cabos submarinos
A NATO anunciou esta semana uma missão para proteger os cabos submarinos na região do Mar Báltico. Apelidada Baltic Sentry, ou Sentinela do Báltico, esta envolve “fragatas e aviões de patrulha marítima, entre outros”, como explicou o secretário-geral da Aliança Atlântica, Mark Rutte, numa reunião em Helsínquia.
Este anúncio surge na sequência de uma série de incidentes naquela região envolvendo cabos submarinos. No Dia de Natal, dois cabos de telecomunicações entre a Finlândia e a Estónia foram danificados numa alegada sabotagem. Estes cabos de fibra ótica já foram entretanto reparados, mas as autoridades finlandesas continuam a investigar as suspeitas de envolvimento do petroleiro Eagle S. Apesar de ter pavilhão das Ilhas Cook, suspeita-se que o navio pertença à “frota fantasma russa” - navios que transportam petróleo russo e que o Ocidente acusa de contornar as sanções impostas a Moscovo na sequência da guerra na Ucrânia.
Em novembro registou-se outro incidente semelhante ao largo da Dinamarca, com as suspeitas a recaírem então sobre um cargueiro chinês. A rutura dos dois cabos usados nas telecomunicações terá sido provocada pelo Yi Peng 3, que esteve um mês na Dinamarca enquanto decorria a investigação, tendo entretanto seguido viagem.
Mas qual a importância destes cabos submarinos? O próprio Mark Rutte relembrou que mais de 95% do tráfego da internet está protegido por cabos submarinos e que 1,3 milhões de quilómetros de cabos garantem cerca de dez biliões de dólares de transações financeiras todos os anos - e 10% a 15% dos cabos de todo o planeta passam pela Zona Económica Exclusiva de Portugal! O secretário-geral da NATO denunciou que “em todos os pontos da Aliança vimos elementos de uma campanha para desestabilizar as nossas sociedades através de ataques cibernéticos, tentativas de assassinato e sabotagem, incluindo uma possível sabotagem de cabos submarinos no Mar Báltico”. Rutte condenou os ataques contra infraestruturas críticas da NATO e prometeu retaliação e medidas para impedir que volte a acontecer.
Invisíveis, mas vitais, estes cabos estão hoje no centro de uma batalha submarina que vai do Báltico a Taiwan. Basta olhar para o mapa do mundo com a representação destes cabos para perceber a sua importância, seja nas transações financeiras, nas comunicações governamentais sensíveis, nas chamadas telefónicas ou na transmissão de dados pela internet. Não espanta pois que uma infraestrutura essencial para a economia global atraia atores dispostos a perturbá-la, com as suspeitas a recaírem sobre Rússia e China, mas também sobre os houthis, do Iémen.
Longe vão os tempos em que a maior ameaça aos cabos submarinos eram as dentadas de tubarão.
Editora-executiva do Diário de Notícias