Vivemos um período de alterações tão profundas que mesmo as instituições mais bem informadas têm grande dificuldade em prever evoluções futuras da nossa sociedade.Nesta Europa sem fronteiras em que queremos viver, atentemos no que se passa em Espanha. Talvez, olhando para um país diferente, mas que conhecemos bem, a razão se possa sobrepor à irracional algazarra.De acordo com uma notícia publicada num prestigiado jornal internacional (Le Monde, 22 de Outubro de 2025), a Organização das Nações Unidas previu, no ano 2000, que Espanha precisaria de 12.000.000 de imigrantes até ao ano de 2050. Já este ano, o Banco de Espanha prevê como necessidade, para o mesmo período, 24.000.000 de imigrantes.Registe-se que Espanha tem, agora, cerca de 49.000.000 de habitantes dos quais 7.000.000 (14,3%) são estrangeiros.E, registando Espanha um crescimento anual da sua economia de cerca de 2,6%, o papel dos imigrantes nesse crescimento parece determinante.Assim, nos anos de 2022 e 2023 os estrangeiros representaram cerca de 80% dos novos activos; constituem 28% da mão-de-obra da hotelaria e restauração; respondem por 20% da mão-de-obra no sector da construção.A verdade é que, com intensidades diferentes em cada país, instalou-se na Europa um “Inverno demográfico”, Inverno há muito previsível e antecipável, mas que todos negligenciámos.Se há matéria que devia merecer alargados entendimentos nacionais e europeus é, sem qualquer dúvida, a questão demográfica.A verdade é que a Europa não se preparou para uma inevitável diversidade, para uma pluralidade de culturas, para a diversidade de comportamentos, quantas vezes antagónicos. E, talvez pior que tudo isso, parece ficar tolhida quando se trata de afirmar e defender a longa marcha que fez no sentido da defesa do primado do direito, da afirmação dos direitos humanos e de um princípio - para nós tão evidente que, por vezes, nos esquecemos de o afirmar -, o da igualdade entre todos os seres humanos.Claro que a Europa pode optar por viver o seu “Inverno demográfico” sem medidas de compensação, desde que esteja consciente do que isso representa para os seus cidadãos e para a qualidade de vida de cada um.Estamos, todos, confrontados com questões de tipo novo sobre as quais não reflectimos, não projectámos opções, nem definimos políticas.Verdadeiramente quase todos nós tendemos a reagir entre a razão e o instinto, entre a cómoda generalização e a incómoda necessidade individual, entre o bastão e a compaixão, entre o discurso inflamado e o típico “atirar para debaixo do tapete”.Porventura será mais avisado agir e não esquecer que esta sociedade em que vivemos tem um pacto em que a larga maioria se reconhece. Por isso defendo que, de imediato, nas nossas escolas, todas, e em todos os níveis de ensino, se ensine aos alunos a nossa Constituição da República e a Declaração Universal dos Direitos do Homem. Sim, é este o mundo em que queremos viver, na diversidade que o caracteriza, afirmando, sempre, sempre, sempre, a dignidade da pessoa humana como pedra angular que suporta a construção da nossa casa comum democrática e livre.Advogado e gestor