Há anos que parecem apenas passar; outros anunciam-se como encruzilhadas. 2026 pertence claramente à segunda categoria. Política, governação, geopolítica e futebol alinham-se num calendário que promete pouco sossego e muitas decisões. Em Portugal, o grande palco será o das eleições presidenciais. A campanha já deixou pistas suficientes para quem as quiser ver. Marques Mendes e André Ventura, embora com estilos e conteúdos muito diferentes, afirmaram-se como os candidatos prováveis para disputar a segunda volta. Pelo caminho ficou uma desilusão politicamente autoinduzida: Gouveia e Melo entrou forte, mas foi-se perdendo debate após debate, culminando num momento particularmente infeliz em que preferiu lançar lama vaga sobre o adversário em vez de assumir frontalmente aquilo que insinuava. A política não aprecia cobardias prolongadas. No fim de contas, e a avaliar pelo que foi dito e, sobretudo, pelo que foi mostrado, os portugueses parecem inclinar-se com clareza, numa segunda volta, para Marques Mendes. Na governação, porém, há um tema que resiste a todos os ciclos e que em 2026 continuará a impor-se com crueza: o acesso ao Serviço Nacional de Saúde. Hoje, aceder a uma urgência hospitalar implica, demasiadas vezes, uma espécie de jogo de sobrevivência: chamadas para linhas congestionadas, transferências sucessivas, hospitais cheios. Um antigo responsável político contou recentemente que, após um acidente grave na VCI, no Porto, a assistência rodoviária chegou antes do socorro médico – a vítima esperou 39 minutos. O paradoxo mantém-se: uma vez ultrapassada a porta de entrada, a qualidade clínica continua a ser reconhecida. Talvez 2026 seja o ano em que se percebe que mudar políticas implica, por vezes, mudar protagonistas. No plano internacional, poucas notícias seriam tão desejáveis como o fim da guerra na Ucrânia. Assistir à agressão continuada de um país por outro, com ataques sistemáticos a alvos civis e energéticos, mesmo em contexto de negociações, é um retrato perturbador do nosso tempo. O Ocidente parece ter abandonado a ilusão de estrangular completamente a economia russa para forçar uma implosão interna. O cenário mais provável para 2026 aponta para um acordo imperfeito: a Rússia ganhará território estratégico; a Ucrânia obterá garantias de segurança. Não será uma paz justa, mas poderá ser, pelo menos, o fim da chacina. E depois há o futebol. O Mundial de 2026, nos Estados Unidos, México e Canadá, não terá a densidade emocional de um Europeu, onde o futebol é quase matéria identitária. Ainda assim, a máquina mediática fará o seu trabalho e os estádios encher-se-ão. Portugal estará lá, com ambição, mas convém moderar entusiasmos. Cristiano Ronaldo deverá despedir-se dos mundiais, e dele esperamos o que sempre proporcionou: instinto, presença e golos. Quanto às novas estrelas, há uma que me entusiasma particularmente: Vitinha não é apenas talento; é inteligência em movimento. Se eu mandasse, a taça já tinha dono. Professor catedrático