2025: o ano das Américas?
O próximo ano começará, assim o espero, com os olhos da União Europeia virados para as Américas, no plural, e não só para os EUA.
Muito antes das eleições americanas, já a UE deveria estar atenta ao reforço das suas relações com a América Latina, e vice-versa. No entanto, isso não aconteceu, sobretudo até à invasão da Ucrânia pela Rússia. Recentemente, a vitória de Trump e as suas ameaças aos vizinhos do Sul parecem ter ajudado a empurrar o acordo comercial com o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai), finalmente assinado este mês em Montevideu. Espero que também venha a ajudar a renovar o acordo de associação com o México.
Recordo que o acordo com o Mercosul estava a ser negociado desde 1999, emperrado por razões diversas, ora de um lado, ora do outro. E não esqueço que este foi um passo decisivo, mas que ainda assim faltam outros até que o Acordo seja mesmo aplicado e os seus efeitos se tornem visíveis.
A sua relevância do ponto de vista económico, quer para os consumidores, quer para muitas empresas, é indiscutível, por exemplo, no domínio das energias renováveis, da agricultura sustentável, da infraestrutura digital e do seu aproveitamento. O seu interesse para Portugal também é grande, podendo equilibrar a sua balança comercial com a América Latina, até agora deficitária. No que este acordo não deve tornar-se é numa mera importação pela UE de produtos de baixo valor acrescentado e de matérias-primas, como o lítio, e, ao contrário, a exportação de produtos industriais de alto valor para os seus parceiros americanos. Ele deve ser um negócio equilibrado para os dois lados, que traga oportunidades de acesso à inovação e ajude à redução das enormes desigualdades nos países americanos envolvidos (10% dos mais ricos na América Latina ganham em média 12 vezes mais do que 10% dos mais pobres).
Na verdade, para além das vantagens económicas recíprocas, há neste e em outros acordos com países da América Latina vantagens políticas, sociais e culturais. Trata-se provavelmente da região do mundo com quem temos uma relação histórica e cultural mais chegada. Uma região com quem temos laços de cooperação fortes nas áreas da investigação científica e do Ensino Superior - em especial Portugal e a Espanha, mas também a França e a Itália. Uma região para onde nós vamos e de onde eles vêm sem problemas de integração relevantes. Uma região onde, em geral, a democracia funciona, com alguns sobressaltos e algumas exceções lamentáveis (que, aliás, tratamos sempre com menos tolerância do que aquela que temos para países de outras partes do mundo com regimes bem menos recomendáveis).
Tomara, assim, que este Acordo seja o princípio de uma etapa de maior proximidade entre a UE, toda ela, e quatro países tão importantes da América do Sul, e que o mesmo aconteça nas relações com os seus vizinhos latinos.