2025: A prova de fogo para a autonomia estratégica da Europa
O ano que se inicia apresenta-se como um período de crescente complexidade e volatilidade para a Segurança da Europa. Num contexto internacional marcado pela persistência de conflitos, pela fragmentação do poder global e pela ascensão de novos atores, a União Europeia enfrenta inúmeros desafios à sua Segurança e Coesão Social.
A guerra na Ucrânia continua a ser o epicentro das preocupações políticas na Europa. Desde logo, porque deixou transparecer a incapacidade europeia de responder de forma atempada e oportuna à ameaça russa do ponto de vista militar, mas também porque revelou a enorme dependência da Europa em sectores fundamentais como o energético.
Com efeito, a Europa foi prescindindo da sua autonomia estratégica em diversos sectores e isso teve um preço: vulnerabilidade a choques externos, perda de soberania decisória, fragilidade económica, exposição a ameaças geopolíticas, desigualdade interna e fragmentação, comprometimento na Defesa e Segurança, risco à transição energética e tecnológica.
Três anos após o início da invasão russa, e mesmo que o conflito bélico termine em breve, a ameaça já está instalada e persistirá sob novas formas. A Europa enfrentará uma relação com Moscovo marcada por tensão estratégica, rivalidade e ciclos de provocação, exigindo um reajuste permanente, num cenário de grande instabilidade interna e marcado por uma crise de lideranças nos principais pilares que foram sustentando o desenvolvimento deste projeto dos “Estados Unidos da Europa”, como cunhou Churchill.
A manutenção da coesão interna entre os Estados-membros será vital para evitar divisões que possam fragilizar a posição da UE face às ambições expansionistas de Moscovo, designadamente com a ascensão de governos com agendas não-alinhadas às políticas comuns da UE, como é o caso desde logo da Hungria e Eslováquia.
A acrescer a tudo isto, uma nova Administração norte-americana mais isolacionista, que testará a autonomia estratégica europeia, obrigando a UE a reforçar os seus mecanismos de Defesa e a cooperação militar interna.
A emergência de um novo teatro de tensões no Indo-Pacífico, impulsionado pela rivalidade entre os Estados Unidos e a China, também terá repercussões diretas sobre a Europa. A pressão para equilibrar relações comerciais com Pequim e, simultaneamente, reforçar os laços transatlânticos será um dos principais dilemas para as capitais europeias.
Assegurar a resiliência tecnológica e cibernética torna-se igualmente prioritário. O aumento das ameaças híbridas, desde ataques informáticos a campanhas de desinformação, exige investimentos substanciais na proteção de infraestruturas críticas e no combate à manipulação digital.
Por fim, a questão migratória permanece como um desafio sensível. As crises humanitárias em diversos pontos do globo continuarão a gerar fluxos migratórios, testando a capacidade da Europa de responder com uma abordagem equilibrada entre Segurança e Direitos Humanos.
Que em 2027, ao celebrarmos sete décadas de integração europeia, os líderes europeus possam não apenas evocar o passado, mas falar de futuro e provar, com ações concretas, que a autonomia estratégica da Europa não é um ideal distante, mas uma obra em plena construção - firme, independente e à altura dos desafios do nosso tempo.
É o que desejo!
Especialista em Segurança e Defesa