Da esquerda para a direita: Gonçalo Mateus, 20 anos, Daniela Rodrigues, 18 anos, Miguel Ferreira, 18 anos e Beatriz Silva, 18 anos, assistiram ao debate com o DN
Jovens que assistiram ao debate com o DN.D.R.

Montenegro e Pedro Nuno Santos. “Este debate não é para jovens”

São alunos do Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP). A maioria vai votar pela primeira vez. Com o DN, assistiram ao debate entre os líderes do PSD e do PS.
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“Vendo este debate até parece que os jovens não votam”, exclama Beatriz, de 22 anos. Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos trocam argumentos há quase uma hora e por um único momento a sala prestou atenção digna de registo: falamos da breve referência à Fundação da Ciência e Tecnologia, com Luís Montenegro a puxar os galões do “forte investimento” do governo na inovação. A presidente da Associação de Estudantes do Instituto Superior de Engenharia do Porto não desarma. “Enquanto jovem estudante, não posso deixar de manifestar a minha frustração por ainda não ter ouvido uma única proposta concreta sobre juventude ou ensino superior. A emigração jovem continua a ser um dos maiores flagelos do nosso país, assistimos a uma verdadeira fuga de talento, com milhares de jovens qualificados a sair de Portugal à procura de melhores condições”.  Antes de passar a palavra aos mais novos, Beatriz Teixeira, 22 anos, aluna do mestrado de Engenharia e Gestão de Cadeias de Abastecimento, pede “um compromisso sério com os jovens, com medidas que nos fixem em Portugal e tornem o nosso futuro possível cá”.  

Os presentes concordam. Aos 20 anos, Rita Portugal, está prestes a terminar o curso de Engenharia Biomédica. “E prestes a deixar o país”, acrescenta. Na tela do pequeno anfiteatro, os oponentes acusam-se: “Pedro Nuno Santos não tem limites”, diz o social-democrata. “Luís Montenegro não tem idoneidade para o cargo”, ataca o líder socialista.  

Rita passa por cima do que se diz em estúdio. Prefere explicar por que parte, apesar de temer as saudades. “É uma questão de conforto. Não é que não acredite que Portugal seja um bom país para viver. Mas talvez tenha melhor acesso ao que pretendo, em termos de conforto, de luxo, de vida boa, em países como a Dinamarca, a Suíça, ou a Holanda. E com menos esforço e sacrifício”. A que associa “ um mercado de trabalho mais preparado para a receber”. 

D.R.

Assistem ainda ao debate Afonso Fernandes, 18 anos, aluno de Engenharia Geotécnica e Miguel Ferreira, 18 anos, de Engenharia de Sistemas. Francisca Silva, André Lemos e Beatriz Silva, todos com 18 anos, Gonçalo Mateus, com 20, Maria Mendes, de 19, e Daniela Rodrigues, com 18, são alunos do Curso de Engenharia Informática. Diz Daniela: “Hoje em dia, para os deslocados é muito difícil, e nem todos temos ajudas. Este debate devia ter começado por aí.  Assim, não baixam a abstenção e no fundo, o futuro somos nós. Merecíamos abrir debates”. 

Gonçalo é o único que manifesta desacordo: “Os assuntos estão todos ligados.  A saúde de que todos precisamos, a economia, que indiretamente leva ao crescimento da habitação e que faz com que os jovens permaneçam em Portugal”. Para o futuro engenheiro informático, a queda do Governo devido à moção de confiança, é um tema igualmente importante. “ Os portugueses devem ter dados para decidir se podem confiar, de novo, em Luís Montenegro”.  

Debate terminado, unanimidade num ponto: foi longo. Porém, os dois ou três bocejos explicam-se “com as atividades extracurriculares" também conhecidas por festas académicas.   

A Saúde, segundo tema da noite, incentivou a tímida Maria Mendes: “A minha avó esperou horas num hospital público, ao lado de pessoas que estavam em situação ainda mais grave, e o problema foi resolvido em cinco minutos, num hospital privado, com uma simples injeção”. Nem todos podem, lembra. Um problema “de falta de organização”, comenta Gonçalo. Que, secundado pelos presentes, descrê de promessas “irrealistas”. Dá um exemplo: “Médicos de família para cada português”.  

Quem ganhou? 

Daniela e Rita assumem que os dois líderes “ desconversaram”. Porém “Montenegro  esteve mais preocupado em defender-se". Para estas duas alunas, ganhou Pedro Nuno Santos. 

Os restantes discordam. “ Montenegro”, diz Miguel. O futuro engenheiro de sistemas explica, começando por ressalvar que não se tratou de um debate. “Isto foi um ataque do lado do PS, sempre a mandar abaixo o que está a ser feito e nunca a defender o seu programa”.  Miguel levaria outra tática: “Seria muito mais inteligente da parte de Pedro Nuno Santos defender o seu programa e mostrar que é o melhor em vez de perder tempo a desvalorizar o que foi feito”. 

Gonçalo Mateus tem 20 anos e votará pela segunda vez. Embalado pela conversa, define-se. “Entrei a aqui a pensar votar em branco e  vou sair daqui com a mesma ideia”. Diz que é o um voto de protesto. “O que os portugueses querem é soluções e maneiras possíveis de melhorar o estado do país, principalmente na saúde e na habitação. E como o meu colega diz, acho que PNS esteve muito mais à procura de ganhar o combate e não tanto de explicar aos portugueses possíveis maneiras de melhorar”. Montenegro “conseguiu argumentar melhor, apesar de estar mais nervoso”.  

Sobretudo “quando se começou a falar da Spinumviva. “Levou a peito”, diz. Estão devidamente esclarecidos em relação aos negócios de Montenegro? A pergunta provocou silencio na sala. Ficaria sem resposta.  

Liderança 

Fosse anunciado que o apagão duraria um mês, em quem confiaram para liderar o país nessa emergência?  

Só um se pronunciou. “Votava no Luís Montenegro. Após as acusações que Pedro Nuno Santos fez, acho que Luís Montenegro argumentou bem e apanhou em alguns momentos uma certa desinformação de Pedro Nuno Santos”.  

O comentário leva ao critério seguinte: confiabilidade. Provocação clássica: a qual deles comprariam um carro em segunda mão? "A nenhum", diz Gonçalo. A sala anuiu e o jovem aproveita para fazer campanha por um amigo da família, apesar de ter garantido que votaria em branco. “Comprava ao João Cotrim Figueiredo”. Os presentes admitem: “A Iniciativa Liberal e o Bloco são talvez os que mais falam nos jovens”.  

Beneficiados e excluídos  

Falar em esquerda ou direita diz pouco a este grupo. Porém, quando se lhes pergunta quem serão os beneficiados e os excluídos dos dois protagonistas, ninguém contradiz Gonçalo. “Com Pedro Nuno Santos serão beneficiados os mais pobres e prejudicada a classe média; com Montenegro serão beneficiadas as classes altas e prejudicadas as mais baixas”.  

Vamos então por partes. Conhecimento dos dossiers,  venceu Montenegro. Provocação ao oponente: Pedro Nuno Santos. Autocontrole: Pedro Nuno Santos. Capacidade de argumentação: sala dividida. Melhor imagem: sala dividida. Francisca gostou da gravata de Montenegro. Combina muito bem com a cor dos olhos”. Beatriz Silva elogia Pedro Nuno Santos. “Levou umas meias decentes. As de Montemegro deixam ver as pernas”.  

Não houve um que colocasse reticencias à necessidade de existir solidariedade intergeracional. Apesar dos receios. ”Vamos trabalhar até velhos e por este andar não receberemos reforma”, diz Daniela. “Morremos sem receber nada”, ouve-se na sala. 

A sustentabilidade da Segurança Social leva ao tema da imigração, “a grande ausência do debate”, diz Miguel. Para quem "a  imigração é uma faca de dois gumes e não falar disso foi um passo em falso”.  

Em época de festas académicas, estes alunos praxariam seguramente os dois candidatos. Beatriz Silva dá uma ideia: “Era pô-los aqui, a viver a nossa vida durante algum tempo. Para perceberem o que sentimos quando eles não nos dão ferramentas para podermos subir na vida”.  

Beatriz Silva saiu como entrou: “É a primeira vez que vou votar, então ainda não fiz uma pesquisa muito a fundo para saber em quem. Pensei que este debate me levaria a decidir. Nada”. Com 18 anos, elegeria  sem hesitar quem a ajudasse a viver com menos medos. Sabem que sem casa, trabalho, saúde, salário que permita suportar uma família não são completamente livres.  

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