Zimbabué: Robert Mugabe afastado da liderança do partido no poder
Robert Mugabe foi hoje afastado da liderança do ZANU-PF e substituído por Emmerson Mnangagwa, durante uma reunião extraordinária do partido. "Ele foi afastado", disse à Reuters um dos participantes. "Mnangagwa é o nosso novo líder", acrescentou.
O partido apresentou entretanto Emmerson Mnangagwa como candidato às eleições presidenciais de 2018 e deu até ao meio-dia de amanhã para Mugabe abandonar a presidência do país.
Na noite de terça para quarta-feira, o Exército assumiu o controlo do Zimbabué apoiando Emmerson Mnangagwa, o vice-Presidente demitido na última semana pelo chefe de Estado na sequência de uma intensa campanha da sua mulher, Grace Mugabe, a qual também foi agora afastada do partido.
Dois dos ministros mais próximos de Robert Mugabe, os da Educação Superior, Jonathan Moyo, e o das Finanças, Ignatius Chombo, também foram afastados do partido.
Na reunião do Comité Central, órgão encarregado de tomar as decisões no seio da ZANU-PF, oito dos dez Comités Coordenadores Provinciais do partido manifestaram-se a favor da destituição de Robert Mugabe devido à "incapacidade" provocada pela idade avançada (93 anos) e lamentaram que toda esta situação tenha criado várias fações internas.
Na abertura da sessão, realizada na sede da ZANU-PF, em Harare, o ministro do Interior, Obert Mpofu, defendeu que, apesar de Robert Mugabe ter desempenhado um papel valioso no Zimbabué, a mulher e os mais próximos têm estado a "aproveitar-se" desse facto para se posicionarem na sucessão.
Esta decisão abre caminho à reintegração de Mnangagwa, que, por sua vez, deverá assumir a liderança de um novo Governo até às eleições gerais de 2018.
Confirmado este cenário, a destituição de Mugabe é o passo seguinte, que terá de ser confirmada pelo Parlamento, medida que o líder parlamentar do maior partido da oposição, o Movimento para as Mudanças Democráticas (MDC), Innocent Gonese, já avançou na casa parlamentar zimbabueana após discutir a questão com a ZANU-PF.
Entretanto, os comandos militares que levaram a cabo a iniciativa vão receber ainda hoje Mugabe na presidência zimbabueana, onde estão instalados.
Fontes oficiais de ambas as partes não têm revelado pormenores sobre as negociações, mas os militares parecem querer defender uma resignação voluntária de Mugabe para manter a legalidade na transição política que, inevitavelmente, se seguirá.
Este sábado, milhares de pessoas desfilaram, num ambiente eufórico, na capital e nos arredores, saudando a intervenção desta semana dos militares contra o Presidente, que tem 93 anos.
Um elemento da direção da ZANU-PF já tinha anunciado à Reuters, sob anonimato, o curso dos acontecimentos para os próximos. Após a manifestação, "se ele se mostrar teimoso, expulsamo-lo no domingo (...). Uma vez isto feito, será a destituição na terça-feira". E o diário Newsday, de Harare, escrevia na edição online que todas as dez direções provinciais do partido no poder tinham aprovado moções de não confiança em Mugabe como líder.
Já hoje a influente Liga dos Jovens da ZANU-PF pedira a Robert Mugabe que se demitisse do cargo de Presidente e exigira a "expulsão" de Grace Mugabe do partido no poder no Zimbabué desde a independência, em 1980.
A intransigência de Mugabe em deixar o poder tem sido, referem analistas locais e internacionais, uma forma de o Presidente zimbabueano contar com o apoio da UA e da comunidade internacional para preservar o seu legado como um dos líderes da libertação de África, bem como para proteger-se, tal como a família, de possíveis processos judiciais.
* com Lusa