Voto de não confiança ao governo checo só será após presidenciais
O presidente checo tem poderes muito limitados, mas é chave na formação do governo. Um processo que devia ter começado ontem, na véspera da primeira volta das presidenciais, não fosse os deputados terem adiado o voto de não confiança do executivo minoritário de Andrej Babis para a próxima terça-feira. Milos Zeman, o presidente "politicamente incorreto" segundo a BBC, lidera as sondagens, mas poderá ser surpreendido numa segunda volta. Aliado de Babis, já prometeu uma nova oportunidade ao primeiro-ministro, acusado de ter beneficiado ilegalmente de subsídios europeus.
Amanhã e sábado, oito milhões de checos vão a votos e o favorito à vitória na primeira volta é o atual detentor do cargo, Zeman. Durante o seu mandato, e como representante do país no exterior, passou de um entusiasta federalista europeu a estender laços à Rússia (é um dos maiores defensores do fim das sanções europeias impostas após a anexação da Crimeia) e à China. Além disso, tem sido um crítico da imigração muçulmana - qualificou a crise migratória de 2015 como "invasão organizada". A República Checa é alvo de um processo por parte da UE por causa da recusa em aceitar refugiados, ao abrigo do sistema de quotas.
Aos 73 anos, este fumador inveterado que não diz não às bebidas alcoólicas, tem contra si os problemas de saúde - tem diabetes tipo 2 e dificuldades em deslocar-se, mesmo com bengala. Os médicos disseram contudo que está em forma para um novo mandato.
Caso não consiga ganhar na primeira volta (sondagens dão-lhe 42,5%), irá provavelmente enfrentar o ex-presidente da Academia das Ciências Jiri Drahos (27,5%). "Quero trazer um estilo completamente diferente de presidência, unir as pessoas, não pôr-lhes rótulos, embutir firmemente a República Checa na Europa, com os aliados da NATO e da UE, e não a China", afirmou o centrista ao site dvtv.cz. A eventual segunda volta será a 26 e 27 de janeiro.
Voto de confiança
Entretanto, Zeman já avisou de que irá dar uma nova oportunidade para Babis formar governo, mesmo que este perca (como é esperado) o voto de confiança no Parlamento. As legislativas de outubro deram a vitória por uma grande margem ao movimento populista Aliança de Cidadãos, que prometeu abalar a política checa e lutar contra o que considera a ingerência europeia. Mas o multimilionário não conseguiu a maioria e foi obrigado a formar um executivo minoritário.
Babis, cuja imunidade parlamentar pode ser levantada em breve, é acusado de ter recebido ilegalmente, há dez anos, subsídios da UE através de uma das suas empresas. A derrota no voto de confiança implicará a abertura de novas negociações, que podem durar meses (Zeman citou o caso alemão, onde não há governo mais de três meses após as eleições). O Partido Social Democrata (centro-esquerda) mostrou-se disponível para negociar um apoio ao executivo, desde que este não inclua pessoas que são alvo de investigação judicial.