Emanuela desapareceu em 1983. Vaticano vai abrir dois túmulos para desvendar mistério
Emanuela Orlandi, de 15 anos, filha de uma funcionária do Vaticano, nunca voltou a casa após uma aula de música em Roma e o caso é um dos mistérios mais longos de Itália.
O porta-voz do Vaticano, Alessandro Gisotti, confirmou esta terça-feira que os familiares e os advogados da rapariga, assim como representantes da Santa Sé, estarão presentes durante a abertura dos túmulos, que será a 11 de julho no Cemitério Teutónico, no Vaticano.
O caso de Orlandi voltou a ganhar atenção recentemente após o surgimento de uma pista anónima sobre o local onde pode estar enterrado o corpo da rapariga. O Vaticano não adiantou mais detalhes sobre a quem pertencem os túmulos que vão ser abertos.
Emanuela Orlandi desapareceu no dia 22 de Junho de 1983 quando regressava a casa vinda de uma aula de música e nunca mais se conseguiu saber qual o seu paradeiro. Nos primeiros tempos a seguir ao desaparecimento de Emanuela, muitas foram as chamadas feitas para os pais, com falsas pistas, tendo havido uma que chegou a ser levada a sério pela polícia e pelos juízes: uma voz de homem telefona e pede a intervenção de João Paulo II para trocar a entrega de Emanuela pela libertação do turco Ali Agca - que atentara contra a vida do Papa em 1981.
O caso Orlandi tem sido associado a conspirações entre bispos, padres e altos dirigentes da Cúria Romana, a agentes búlgaros, à máfia siciliana, à KGB e até à CIA. Em 2008, surgiram suspeitas de que a rapariga teria sido sequestrada, assassinada e enterrada sob ordens do arcebispo Paul Marcinkus, o antigo presidente do banco do Vaticano. Embora o tenham defendido, a Igreja enviou-o para uma paróquia no Arizona, onde ficou até morrer (em 2006).
Numa entrevista de mais de duas horas, no programa "Chi l'ha visto?" ("Quem a viu"?), Sabina Minardi, amante de Enrico De Pedis, chefe da máfia siciliana morto em 1990, revelou aquilo que diz ser a verdade e apresentou também uma razão para que Marcinkus tivesse ordenado o rapto da jovem Emanuela Orlandi: o seu pai, Ercole, "terá visto documentos que não devia ter visto", sendo preciso assegurar o seu silêncio. Sabrina revelou ainda que De Pedis lhe contou tudo isto quando estava sob efeito da cocaína. Em 2012, as autoridades italianas abriram o túmulo de De Pedis, mas não encontraram vestígios de Orlandi.
Nestes anos todos,a família, e sobretudo o irmão de Emanuela, nunca deixaram cair o caso no esquecimento. Agora continuam a exigir o acesso aos documentos do Vaticano sobre o desaparecimento.