Varoufakis quer devolver a Primavera Grega ao seu país

Ex-ministro das Finanças lança em março partido helénico ligado ao DiEM25. E pede ajuda para obter 93 mil euros para o projeto
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Após cerca de um anos e meio de ausência, Yanis Varoufakis está de regresso à vida política na Grécia com o lançamento de uma campanha de financiamento para um futuro partido helénico, que ainda não tem nome, mas será apresentado a 26 de março sob o lema do "regresso da Primavera Grega". Esta nova força política está integrada Movimento Democracia na Europa 2025 (DiEM25), fundado pelo ex-ministro das Finanças há precisamente dois anos.

"Nos últimos dois anos, o DiEM25 tem preservado o espírito da Primavera Grega de 2015 por toda a Europa. Agora, à medida que nos preparamos para apresentar o nosso programa progressista aos europeus em toda a União, através das urnas, chegou a hora de fundar a filial grega do DiEM25, que devolverá o espírito da Primavera Grega ao país que lhe deu origem!", refere o comunicado divulgado ontem no site oficial do movimento. O novo partido irá participar nas eleições locais e nacionais gregas, mas também nas europeias - todas elas com realização prevista para o próximo ano.

Esta Primavera Grega de que falam diz respeito aos cerca de cinco meses que vão desde a eleição do Syriza nas legislativas de 2015 até ao referendo de julho sobre a aceitação ou não das condições de um terceiro resgate (ganhou o não, mas Alexis Tsipras decidiu aceitar na mesma as condições dos credores). Os mesmos cinco meses em que Yanis Varoufakis foi ministro das Finanças e durante os quais liderou, sem sucesso, as negociações sobre a crise da dívida com os credores.

Varoufakis demitiu-se do cargo no dia seguinte ao referendo, consumando o seu afastamento definitivo de Alexis Tsipras, mas manteve-se como deputado do Syriza. A 24 de agosto, votou contra o terceiro resgate e, nas legislativas antecipadas de 29 de setembro, não se apresentou à reeleição.

Desde então, tem-se dedicado à participação em palestras e debates, aos livros, tem dado entrevistas, mas também trabalhado como conselheiro de Jeremy Corbyn, o líder dos trabalhistas britânicos. E um grande crítico da linha seguida por Alexis Tsipras.

O seu regresso à política começou a desenhar-se a 9 de fevereiro de 2016, com o lançamento do DiEM25, um movimento político pan-europeu de esquerda que tem como objetivo democratizar as instituições europeias. Entre os seus apoiantes estão Julian Assange, Noam Chomsky, Stuart Holland, Brian Eno e Rui Tavares.

Agora, Yanis Varoufakis está de volta à vida política grega e o primeiro passo foi apelar a que os cidadãos apoiem financeiramente o futuro partido, pois "todas as ações eleitorais têm custos". "E, ao contrário dos nossos opositores e titulares do establishment, o DiEM25 recusa o financiamento corporativo e institucional", refere o mesmo comunicado, cujo título é "Apoiem a desobediência construtiva na Grécia".

Segundo as contas do movimento, precisam de 93 mil euros: três mil euros para o site do partido, 20 mil para vídeos e publicidade, outros 20 mil para o evento de lançamento a 26 de março, 20 mil para levar à Grécia oradores e 30 mil euros para a equipa grega do DiEM25 viajar pelo país e formar células do novo partido.

Listas transnacionais

As ambições europeias de Varoufakis não ficam em suspenso com este novo projeto. A 21 de janeiro, o grego esteve em Paris com Benoît Hamon, o candidato socialista nas presidenciais francesas do ano passado, para o lançamento de uma campanha para as eleições europeias do próximo ano. Na altura, os dois afirmaram que pretendem constituir listas que partilhem um programa comum e que defendam uma Europa em rotura com a austeridade. Varoufakis adiantou que estas listas iriam apoiar um candidato comum para a presidência da Comissão Europeia. "Para ter uma agenda, um quadro político, também precisamos de uma lista transnacional", declarou o ex-ministro grego no evento.

Na quarta -feira, o Parlamento Europeu chumbou a proposta de criar listas transnacionais, tendo a ideia sido eliminada do texto sobre a composição do hemiciclo no pós-brexit que será enviado ao Conselho Europeu. "O Parlamento Europeu rejeitou as listas transnacionais. Mas não chorem! O DiEM25 está a reunir a 1.ª Lista Partidária Transnacional, em conjunto com movimentos progressistas & partidos de toda a Europa, para disputar as eleições europeias de 19 de maio", tweetou Varoufakis anteontem.

PROGRAMA

New Deal
As bases do chamado New Deal para a Grécia são reduzir drasticamente todas as taxas dos impostos e o custo fixo das atividades financeiras, mas também reestruturar a dívida pública e privada, refere o programa do DiEM25.

Seis reformas
Estas bases para serem cumpridas precisam da aplicação de seis reformas nas seguintes áreas: taxação, objetivos fiscais, criação do sistema digital de pagamentos públicos, gestão dos créditos malparados, investimento e respeito pelo trabalho assalariado e empreendedorismo.

Credores
O programa do DiEM25 para a Grécia mostra-se certo de que a troika e o Eurogrupo "irão rejeitar estas reformas". Sugerem, por isso, que até estas serem aceites "a Grécia manter-se-á no euro usando os seus próprios meios e com o governo a seguir a política da "cadeira vazia" do De Gaulle.

Não negociáveis
Fica claro que estas seis reformas, descritas como condição sine qua non da recuperação grega, não são negociáveis e serão implementadas unilateralmente por Atenas.

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