166 vacinas em estudo e 24 testadas em humanos. Mas disponível só para 2021
O mais recente balanço da Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que existem 166 vacinas contra a covid-19 em desenvolvimento em todo o mundo. Até esta terça-feira pelo menos 24 foram registadas na fase clínica de testes em humanos.
Segundo a agência de saúde das Nações Unidas, de todas as vacinas em desenvolvimento, cinco já estão na sua terceira e última fase de estudo. É apenas depois dessa fase, que abrange um número maior de participantes, que uma vacina pode ou não ser licenciada e liberada para a comercialização.
Neste grupo estão as vacinas desenvolvidas pela Sinovac, Instituto Biológico de Wuhan/Sinopharm e Instituto Biológico de Pequim/Sinopharm (China), Oxford/AstraZeneca (Reino Unido) e Moderna/NIAID (Estados Unidos), embora esta última ainda não tenha começado a recrutar voluntários.
É somente nesta terceira fase que a eficácia da vacina é comprovada, ao ser ministrada a um grupo de milhares de voluntários antes de se considerar a comercialização em larga escala.
A vacina de Oxford já está na terceira e final fase de testes em humanos, tendo sido capaz de induzir a imunidade tanto por anticorpos como por células T até 56 dias após a administração da dose. Esta vacina é considerada a mais avançada pela OMS e está a ser testada em 50 mil pessoas em todo mundo. Se tudo der certo, poderá ir para o mercado em junho do próximo ano.
A vacina de Sinovac está na terceira fase de testes, utiliza o vírus Sars-Cov-2 inativo, que é o o mesmo princípio das vacinas contra a hepatite e a gripe, e implanta uma espécie de memória celular responsável por ativar a imunidade de quem é vacinado.
As duas vacinas da farmacêutica estatal chinesa Sinopharm aprovadas na terceira fase são compostas pelo vírus morto ou por partes dele. Uma das vacinas está a ser avaliada em 15 mil voluntários em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, e todos eles geraram anticorpos após duas doses em 28 dias.
A vacina da Moderna mostrou-se segura e eficaz, uma vez que a imunidade produziu anticorpos em 45 voluntários e nenhum deles apresentou um efeito colateral grave, mas mais da metade relatou reações leves ou moderadas, como fadiga, dor de cabeça, calafrios, dores musculares ou dor no local da injeção, sendo que a maior parte das queixas veio dos pacientes que tomaram duas doses da vacina na sua concentração mais alta. A farmacêutica recebeu autorização do governo norte-americano para acelerar o processo de investigação, apesar das críticas da comunidade científica.
Antes dos testes em voluntários, a imunidade passa por diversas fases de experiencias pré-clínicas, em laboratório e com cobaias. Só após ser avaliada a sua segurança e eficácia é que começam os testes humanos, a chamada fase clínica.
Numa primeira fase, a vacina é testada num número reduzido de voluntários adultos saudáveis que são monitorizados de perto e é nesse momento que se entende qual é o tipo de resposta que o imunizante produz no corpo.
Na segunda fase, o estudo clínico é ampliado e conta com centenas de voluntários com características semelhantes àquelas para as quais a nova vacina é destinada, e é avaliada a segurança da vacina, a capacidade de proteção, a dosagem e como deve ser administrada.
Na terceira e última fase, é feito um ensaio em larga escala, a milhares de indivíduos, onde é avaliada definitivamente a eficácia e segurança da vacina em larga escala, assim como a durabilidade da proteção.
A Comissão Europeia anunciou nesta quarta-feira a alocação de 100 milhões de euros a um projeto de investigação de vacinas contra a covid-19, verba que se soma aos 15,9 mil milhões de euros já anunciados para testes e outros tratamentos.
Em comunicado, o executivo comunitário divulga que "cofinanciará com 100 milhões de euros um concurso lançado pela Coligação para Inovações em Preparação para Epidemias para apoiar o rápido desenvolvimento de vacinas contra o novo coronavírus", naquele que é um novo projeto de um centro de investigação para tentar acelerar a descoberta deste tipo de tratamentos para a covid-19.
O responsável pelo programa de Emergências Sanitárias da Organização Mundial de Saúde afirmou nesta quarta-feira que não haverá vacinas para a covid-19 antes da segunda metade de 2021, apesar de "sinais de esperança" nos testes clínicos.
Numa sessão de perguntas e respostas através da Internet, Michael Ryan afirmou que é preciso "realismo nas expectativas" em relação a uma vacina e que terão que ser tomadas "todas as precauções" para garantir que é absolutamente segura.
"De forma realista, não teremos pessoas a serem vacinadas até à segunda metade do próximo ano", afirmou, notando que se assiste a um número crescente de vacinas a passarem à chamada fase três dos testes e a serem experimentadas em voluntários humanos.
Na iniciativa da Organização Mundial de Saúde para garantir o desenvolvimento e acesso equitativo a uma vacina, a que aderiram a maior parte dos países do mundo, cerca de meia dezena de potenciais vacinas "não fracassaram até agora" e cumpriram nos requisitos de segurança e criação de resposta imunitária.
Michael Ryan pediu também realismo nas expectativas sobre a eficácia de uma vacina, que nunca será total: "Adoraria poder dizer que vamos ter uma vacina e em dois ou três meses este vírus desaparecerá, mas isso não é realista".
"É importante fazermos o que pudermos agora. É mais fácil vencer um adversário se já o tivermos cansado", ilustrou.
"Estamos a ver sinais de esperança. Mas em vacinas, por mais depressa que nos esforcemos para as ter, teremos que garantir que são seguras e eficazes e isso levará tempo. Estamos a acelerar, mas não vamos facilitar no que toca à segurança", garantiu.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 616 mil mortos e infetou quase 15 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 1.702 pessoas das 49.150 confirmadas como infetadas, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.