Ucrânia. Comediante leva larga vantagem para a segunda volta

Inexperiente na política, o comediante Volodymyr Zelensky ficou muito à frente na primeira volta das eleições presidenciais ucranianas, assumindo uma posição forte para a segunda volta, que está prevista para 21 de abril contra o atual presidente Petro Poroshenko.
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O ator e empresário de 41 anos, cuja experiência enquanto político é o de interpretar um presidente numa série televisiva, excedeu todas as expectativas, ao obter 30,2% dos votos, num sinal da desconfiança dos ucranianos na sua classe política após anos de graves dificuldades económicas e escândalos de corrupção. "Este é apenas um primeiro passo para uma grande vitória",reagiu Volodymyr Zelensky.

Acusado de ser um fantoche do oligarca Igor Kolomoyski, um inimigo do presidente Poroshenko, e apesar das dúvidas levantadas pela ambiguidade do seu programa eleitoral e da sua capacidade para governar um país em guerra e no centro das tensões entre a Rússia e o Ocidente, ficou com quase o dobro da percentagem em relação ao segundo classificado, segundo os resultados publicados pela Comissão Eleitoral.

Dura lição para Poroshenko

O presidente Petro Poroshenko, de 53 anos, ficou com 16,7%, quando estão contados pouco mais de metade dos votos.

"Não estou eufórico", admitiu Petro Poroshenko. "Esta é uma dura lição para mim", acrescentou, agradecendo aos seus eleitores que "apoiaram a orientação para a NATO, para a União Europeia e uma independência definitiva da Rússia".

O presidente é acusado de nada ter feito na luta contra a corrupção, uma grande preocupação da revolta que expulsou o presidente Viktor Yanukovych e que levou este bilionário - conhecido como "o rei do chocolate" devido à fortuna realizada na indústria do chocolate - há cinco anos.

No topo das sondagens no início da campanha eleitoral, a ex-primeira-ministra Iulia Timochenko, de 58 anos, só teve 13,1%, mas não admitiu a derrota. Reivindicou o segundo lugar e denunciou as sondagens como "desonestas" e "manipuladoras".

Mas a Comissão Eleitoral rejeitou falta de transparência. "A votação ocorreu sem violações sistemáticas", disse Tetiana Slipatchouk, presidente da Comissão Eleitoral. A polícia informou que recebeu mais de 2.100 queixas de alegadas fraudes, a maioria das quais não eram graves.

Todas as sondagens publicadas domingo à noite pelos media ucranianos deram a mesma ordem de chegada entre os três favoritos. A Comissão Eleitoral estimou a participação dos eleitores em quase 64% em quase todos os círculos eleitorais, uma subida em comparação a 2014.

A Ucrânia está a atravessar a pior crise desde a sua independência em 1991. A chegada de políticos pró-ocidentais em 2014 foi seguida pela anexação da Crimeia pela Rússia e por um conflito que permanece com separatistas do leste, alimentado por Moscovo. A guerra fez cerca de 13 mil mortos.

Para o analista Anatoly Oktyssiouk do Democracy House Centre de Kiev, o ator vai ganhar as eleições, tendo o atual presidente atingido o auge do seu apoio: "É uma reação aos escândalos de corrupção, um protesto contra velhas elites", disse à AFP.

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