Trump dá negativo e sai da Casa Branca para um regresso aos comícios

A três semanas das eleições - e já recuperado da covid-19, segundo o médico - o candidato pelo Partido Republicano regressa em toda a força com o objetivo de contrariar as sondagens e reconquistar popularidade.
Publicado a
Atualizado a

Donald Trump teve resultado negativo para covid-19 num teste rápido, informou o seu médico na Casa Branca, nesta segunda-feira (12), dez dias após o presidente anunciar que havia contraído a doença provocada pelo novo coronavírus.

"Posso compartilhar convosco que ele deu negativo, em dias consecutivos, usando o teste de antigénio Abbot BinaxNOW", disse Sean Conley, num comunicado divulgado ao público.

O anúncio foi feito horas antes de Trump retomar as ações de campanha fora da Casa Branca, com um comício na noite desta segunda-feira na Florida.

É uma agenda preenchida até quinta-feira: Donald Trump, de 74 anos, que afirma estar "imune" à covid-19 depois de ter estado hospitalizado e sido objeto de um tratamento experimental, vai fazer comícios em aeroportos na Florida, Pensilvânia, Iowa e Carolina do Norte em quatro dias.

No momento em que o número de mortos pela pandemia ultrapassa 214 mil pessoas nos Estados Unidos, Biden está em média 10,6 pontos à frente de Trump nas sondagens nacionais (52,3% contra 41,7%, segundo a RealClearPolitics).

Além disso, o antigo vice-presidente mantém vantagem nas sondagens nos chamados estados decisivos para a eleição.

Na Florida, primeira paragem de Trump (em concreto, no aeroporto de Sanford, perto de Orlando, na noite desta segunda-feira), Biden regista uma vantagem em média de 4,5 pontos percentuais. Desde o início de março que Trump perdeu para o adversário a liderança nas sondagens.

A vitória neste estado, além do número de votos (29) que representa no colégio eleitoral de 538 votos, é um indicador para o onde a eleição deve pender. Nenhum republicano desde Calvin Coolidge, em 1924, chegou à Casa Branca tendo perdido este estado. Por outro lado, só em 1960 (John Kennedy) e em 1992 (Bill Clinton) é que os republicanos venceram o estado e perderam a eleição geral.

É a segunda visita de Trump ao estado para o qual mudou oficialmente a residência. Esteve há duas semanas e meia no aeroporto de Jacksonville. Há um mês Biden esteve em Tampa e em Kissimmee.

Na terça-feira, é a vez de Trump falar no aeroporto de Johnstown, na Pensilvânia. Aqui, a desvantagem do nova-iorquino é maior: 43,8% contra 51% de Biden na média das sondagens. Em 2016, o candidato republicano venceu por pouco neste estado, uma façanha só conseguida antes por George Bush em 1988.

Trump havia feito um primeiro comício neste estado da chamada cintura da ferrugem no aeroporto de Harrisburg, ao que Biden tinha respondido com um discurso pela união do país em Gettysburg, palco da batalha mais sangrenta da guerra civil norte-americana.

A paragem seguinte do Air Force One é no aeroporto de Des Moines. Naquela mesma cidade do Iowa, Trump fez um comício no final de janeiro, quando já tinha recebido relatórios sobre a gravidade do novo coronavírus, e dizia apenas "Vai correr bem".

No comício preferiu falar sobre o seu futuro: "Acho que não vou perder neste estado. Acho que não vou perder em nenhum outro estado." Nas eleições de 2016, o estado foi ganho a Hillary Clinton por uma margem de quase dez pontos. Mas desde junho que o democrata se aproximou e neste momento tem 1,1 pontos percentuais de vantagem. Apesar de este estado apenas contribuir com seis votos para o colégio eleitoral, os republicanos não dão tréguas: na véspera da hospitalização de Trump, o vice Mike Pence visitava o estado pela quinta vez neste ano, conta o Des Moines Register.

Por fim, nesta semana de visitas a aeroportos, Trump irá falar em Greenville, na Carolina do Norte, um estado a que o presidente regressa com frequência. Há três semanas fez um comício em Fayetteville e dias depois em Charlotte, onde Biden foi falar sobre desigualdades raciais. Em 2016, este estado -que contribui com 15 votos para o colégio eleitoral - deu a vitória ao republicano por uma margem menor do que três pontos. Agora, as sondagens colocam-no em segundo, mas também por uma diferença de menos de três pontos.

Enquanto Trump se dirigiu para sul, a campanha democrata apostou num estado fundamental: o Ohio, cujos eleitores ajudaram a escolher o vencedor das presidenciais 34 em 38 vezes. Nunca um republicano ganhou as eleições sem este estado. Biden foi visitar Cincinnati e Toledo numa tentativa de dar um novo impulso a um estado que tem 18 votos no colégio eleitoral e no qual mostra um eleitorado profundamente dividido desde abril. Neste momento, a média das sondagens atribui menos de um ponto de vantagem ao democrata.

Diante das sondagens, Trump mantém a sua tática: desprezar os órgãos de comunicação que veiculam as sondagens e apelar às emoções. Desta vez recordou a surpresa eleitoral de 2016, ao citar o estatístico Nate Silver (do site FiveThirtyEight), que disse: "A vitória de Trump em 2016 foi o evento político com mais impacto na minha vida." Para o candidato, "desta vez há mais entusiasmo do que em 2016", e prometeu "vencer em muitos estados com muito mais facilidade do que as pessoas pensam."

É de esperar que, além dos ataques a Biden, Trump deverá tentar apelar à base eleitoral com o tema da nomeação da juíza Amy Coney Barrett para o Supremo Tribunal. A comissão judicial do Senado, controlada pelos republicanos, iniciou nesta segunda-feira as audições da ultraconservadora juíza de 48 anos, cuja confirmação, vai tornar o Supremo ainda mais conservador nas próximas décadas e poderá pôr em risco em breve trecho o Affordable Care Act, a reforma na Saúde mais conhecida como Obamacare. Isso mesmo foi mencionado pelos senadores democratas antes de terem começado a questionar Barrett.

O regresso de Trump à campanha acontece horas depois de se declarar imune à covid-19. "Parece que estou imune, não sei, talvez por muito tempo, talvez por pouco tempo, talvez por toda a vida. Ninguém sabe realmente, mas estou imune", disse no domingo. "Hoje vocês têm um presidente que não precisa esconder-se na cave como o seu adversário", acrescentou, referindo-se a Joe Biden.

Trump chegou a afirmar no domingo, numa mensagem de áudio, que deu "totalmente negativo" para o vírus, uma alegação que não foi confirmada oficialmente, embora o médico da Casa Branca Sean Conley tenha afirmado na véspera que não havia risco de o presidente transmitir o vírus a outras pessoas. "Antecipo um regresso totalmente seguro do presidente aos seus compromissos públicos", escreveu.

"Alta total e completa dos médicos da Casa Branca ontem. Isto significa que não posso ter o vírus (imune) e não posso transmiti-lo. É muito bom saber disso!", tuitou Trump no domingo. O Twitter informou que a mensagem viola as regras da rede social sobre a divulgação de informações enganosas e potencialmente prejudiciais em relação à covid-19.

Twittertwitter1315316071243476997

O empresário nova-iorquino deu a entender que Biden, de 77 anos, pode estar doente. "Se vocês tomarem atenção ao Joe, ele estava a tossir terrivelmente ontem [sábado]", disse. "Não sei o que isso significa, mas a imprensa não tem falado muito sobre isso", acrescentou.

A equipa da campanha democrata tem publicado os resultados de testes à covid-19 que Biden faz diariamente desde que foi anunciado que Trump estava infetado. Todos deram negativo.

* atualizado às 23.19 com o resultado negativo dos testes de Trump, anunciado pelo médico

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt