Trump diz que imigração ilegal é "crise da alma". E promete manter 'shutdown' até ter dinheiro para o muro
Num discurso à nação, o presidente Donald Trump reiterou a necessidade de criar "uma barreira" na fronteira sul do país e acusou os democratas de não terem em consideração a segurança nacional por não financiarem o muro na fronteira com o México
O presidente norte-americano, Donald Trump, fez esta noite um declaração ao país relativamente ao 'shutdown' do Governo, acusando os democratas de não quererem financiar a segurança de fronteiras e extremando o discurso relativamente à imigração ilegal, a que chamou uma "crise humanitária, uma crise do coração e da alma". Os líderes democratas reagiram de imediato, desmentindo quase todas as declarações do presidente e desafiando-o a reabrir o funcionamento normal da Administração deixando a discussão sobre o muro na fronteira sul para depois.
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A partir da Sala Oval da Casa Branca - um cenário que normalmente só é utilizado pelos presidentes americanos quando se trata de uma crise nacional grave - Donald Trump afirmou que o país atravessa "uma crise humanitária, uma crise do coração e uma crise da alma", na questão da imigração ilegal.
Avançando dados que logo depois a CNN demonstrou serem falsos - disse que 90% da heroína entra nos EUA através de vias ilegais quando na realidade a grande maioria é contrabandeada por pontos de entrada legais - Trump afirmou que há "milhares de crianças" a serem levadas para os EUA por "coiotes" que promovem a imigração ilegal, quando na realidade a quase totalidade de menores em situação precária nas fronteiras estão acompanhados pelas famílias, muitas com legítimos argumentos para pedir asilo.
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Trump afirmou que as medidas de proteção de fronteiras que pretende implementar são essenciais para combater o "flagelo" em que "mulheres e crianças são de longe as principais vítimas".
Enumerou de seguida as várias medidas que pretende ver aprovadas, como mais agentes policiais nas fronteiras e espaços para albergar quem pede asilo. E deixou para o fim a questão da construção do muro na fronteira com o México, estrutura a que começou por chamar simplesmente "barreira".
"Precisamos de 5,7 mil milhões de dólares para uma barreira que será absolutamente crítica no combate à imigração ilegal"; disse Trump, prosseguindo com a promessa que esta construção "pagar-se-á a si própria", através da redução de contrabando de droga que, afirma, será conseguido e pelo "maravilhoso" acordo comercial com o México que será apresentado em breve.
Relativamente a este último ponto, especialistas ouvidos minutos depois pela CNN desmentiram esta noção de que o acordo comercial poderá de alguma forma financiar o muro.
"O governo federal continua em shutdown por um único motivo: porque os democratas não aprovam o financiamento para controlo de fronteiras", garantiu depois Donald Trump, acrescentando que convidou os líderes democratas para uma reunião na Casa Branca a acontecer esta quarta-feira.
"Um discurso de desinformação"
A presidente da Câmara dos Representantes, a democrata Nanci Pelosi, reagiu minutos depois ao discurso presidencial acusando-o de ter feito uma declaração "cheia de desinformação".
Pelosi lembrou que logo no início do ano o Congresso aprovou várias medidas de segurança de fronteiras - que passam pela contratação de mai agentes e pela implementação de sistemas de videovigilância - "mas o presidente recusou em nome de um muro que prometeu que o México iria pagar".
"Podemos tomar muitas medidas para proteger as fronteiras e estamos na disposição de o fazer", disse Pelosi, para quem "é inaceitável o presidente continuar a manter reféns o povo americano. Tem de reabrir o governo".
De seguida, o líder democrata Chuck Schumer acusou o presidente de utilizar "o cenário da Casa Branca para fabricar uma crise" e garantiu que há formas de "garantir a segurança da fronteira sem uma construção que será ineficaz"
"Sr. presidente, reabra o governo e podemos conversar sobre a segurança de fronteiras. Acabe com o shutdown agora", apelou Schumer.