Trump admite ter falado sobre Joe Biden com homólogo da Ucrânia

Novo escândalo em torno de Donald Trump surgiu após membro dos serviços secretos dos EUA denunciar caso de potencial ameaça à segurança dos EUA
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O presidente dos EUA, Donald Trump, admitiu ter falado com o homólogo da Ucrânia sobre o antigo vice-presidente Joe Biden e o seu filho Hunter, num telefonema que está a ser invocado como prova de pressão sobre um país estrangeiro para obter ajuda para a sua campanha eleitoral.

Neste último escândalo da sua presidência, Donald Trump está a ser acusado de ter pressionado o presidente Vladimir Zelenski, no verão passado, para investigar a intervenção do agora candidato democrata às eleições presidenciais dos EUA Joe Biden, enquuanto vice-presidente de Barack Obama, alegadamente para proteger o filho devido a suspeitas de irregularidades enquanto administrador de uma empresa ucraniana - algo desmentido há meses pelas autoridades ucranianas e pela fita do tempo em que os acontecimentos ocorreram, conforme noticiado pela própria imprensa norte-americana.

Em declarações feitas domingo aos jornalistas e depois de negar a veracidade das primeiras notícias sobre o assunto, Donald Trump reconheceu que o telefonema feito a 25 de julho centrou-se nos problemas da corrupção nos países da Europa de Leste e admitiu ter usado como exemplo a preocupação com o eventual envolvimento do filho de Joe Biden em negócios menos lícitos da empresa ucraniana Burisma.

Acresce que, nessa altura, o então vice-presidente Joe Biden pressionou o Governo ucraniano para demitir o procurador-geral, que era acusado pelo Ocidente de inércia face a casos de corrupção. Mas, conforme já indicado por Kiev, a intervenção oficial de Biden ocorreu meses após a conclusão do processo relativo ao filho e o procurador-geral deixou as funções na sequência de exigências feitas por responsáveis politicos da própria Ucrânia.

Donald Trump voltou a negar ter pressionado o homólogo ucraniano para investigar Hunter Biden, rejeitando as acusações - de dirigentes do Partido Democrata e figuras ligadas aos conservadores, na sua maioria fora do Partido Republicano, ou ligadas ao universo legal e jornalístico - de abuso de poder, por usar o cargo de presidente dos EUA para obter favores políticos e económicos.

A denúncia foi feita por um membro dos serviços secretos, utlizando os canais legalmente estabelecidos e que o próprio inspetor-geral do sistema de informações dos EUA - nomeado por Donald Trump - validou como preocupante e a merecer atenção "urgente".

Nestes casos, a lei norte-americana dá sete dias ao responsável máximo pelos serviços secretos para enviar obrigatoriamente a queixa ao Congresso. Mas esse dirigente, Joseph Maguire, optou por não o fazer, abrindo novo conflito político e jurídico entre a administração Trump e o parlamento dos EUA, a quem a Constituição dá poderes expressos para investigar e eventualmente depor - como no caso Watergate - um presidente em funções.

O Congresso acabou por ser informado pelo próprio inspetor-geral dos serviços de informações, embora escusando-se a revelar o teor da queixa por não ter autoridade para o efeito. Instado pelo Congresso a enviar a denúncia, como imposto pela lei, Joseph Maguire recusou fazê-lo até agora.

Na sua conta na rede social Twitter, Trump já tinha referido sábado que o telefonema ocorreu e que foi "uma conversa perfeitamente normal e rotineira" com o líder da Ucrânia, garantindo que "não foi dito nada de errado".

Domingo, o Presidente norte-americano explicou que a menção a Joe Biden e ao filho se deveu ao facto de não querer que os norte-americanos, incluindo o ex-vice-presidente e Hunter Biden, "contribuíssem para a corrupção na Ucrânia".

"A Ucrânia tem muitos problemas (...). O novo Presidente disse que seria capaz de livrar o país da corrupção e eu respondi que isso seria ótimo. Tivemos uma excelente conversa. Falámos de muitas coisas", afirmou Donald Trump, mas reforçando a ideia de não ter exercido qualquer pressão sobre Zelenski.

Outra alegada intenção de Trump - e do seu advogado pessoal, Rudy Giuliani - junto do homólogo ucraniano visaria ilibar Paul Manaforte, ex-diretor da sua campanha eleitoral em 2016 e já condenado nos EUA por crimes cometidos anos antes e a trabalhar na Ucrânia.

Joe Biden já reagiu à polémica, dizendo que Donald Trump está a tentar prejudicar a sua imagem por ser, segundo as sondagens, o principal candidato presidencial dos Democratas a vencer as eleições primárias do partido.

A presidente da maioria democrata na Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, também disse domingo que, a menos que Joseph Maguire dê mais dados, reter a informação alegando privilégios presidenciais poderá representar uma obstrução de justiça passível de levar a um processo de destituição do Presidente.

Para Donald Trump, a oposição apenas está a tentar tirar proveito político de uma situação em que se deveria investigar a ação de Joe Biden sobre o procurador-geral da Ucrânia, mantendo a sua posição de inocência sobre qualquer pressão sobre Zelenski. Este argumento, aplicado ao caso Watergate, implicaria investigar o que é que o Partido Democrata escondia no edifício Watergate e não o envolvimento do presidente Nixon no assalto às instalações dos democratas.

Donald Trump e Vladimir Zelenski deverão reunir-se esta semana, em Nova Iorque, à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas.

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