Trump abre guerra às drogas e vai declarar emergência nacional
Muitas vítimas começam por consumir opiáceos sob receita, mas acabam por recorrer às drogas ilegais - incluindo a heroína. Mortes quadruplicaram nos últimos 20 anos - são agora 142 por dia.
Em agosto, nas escadas do seu resort e campo de golfe de New Jersey onde tirara uns dias de "férias com trabalho", Donald Trump sublinhava a necessidade de declarar a crise dos opiáceos que atinge os EUA uma "emergência nacional". Mas entre trocas de acusações incendiárias com a Coreia do Norte, a promessa passou despercebida e acabou por ficar na gaveta. Até há dias, quando o presidente americano garantiu um "anúncio importante" para a próxima semana.
"Vamos fazer um anúncio importante, provavelmente para a semana, sobre a crise das drogas e o problema maciço com os opiáceos e quero acertar em cheio nisto", afirmou Trump no Rose Garden da Casa Branca, numa conferência de imprensa com o líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell. Durante a campanha para as presidenciais de 2016, Trump denunciou este "problema tremendo", relacionando a questão das drogas com a construção do muro na fronteira com o México. Para o republicano, uma vedação sólida é a única forma de evitar a entrada nos EUA da droga vinda do país vizinho. Neste momento estão em construção oito protótipos, entre os quais o presidente terá de escolher o vencedor. Alguns têm zonas transparentes, satisfazendo um pedido de Trump para que os guardas fronteiriços possam assim ver "quando eles lançam os grandes sacos de droga".
Ao declarar a epidemia de drogas uma emergência nacional, o governo está a tornar esta questão prioritária, disponibilizando fundos e outros recursos federais para a combater. Depois da declaração de Trump em agosto, o seu secretário da Saúde, Tom Price - entretanto forçado a demitir-se em setembro por usar aviões privados em deslocações oficiais -, alegara não ser necessário declarar a emergência nacional, garantindo haver já meios suficientes para combater esta epidemia.
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Segundo o National Institute of Drug Abuse, o opiáceos incluem a heroína, drogas sintéticas como o fentanil, ou analgésicos disponíveis mediante receita médica, como a oxicodona, a morfina, a codeína e muitos outros. Muitas das pessoas que se tornam dependentes das drogas começaram por consumir opiáceos receitados pelo médico para combater a dor. Mas mais tarde recorrem às drogas ilegais, inclusive à heroína, para alimentar o vício. Em 2014 um relatório do Center for Rural Pennsylvania revelava que em algumas cidades das zonas rurais daquele estado a heroína era mais fácil de comprar do que uma garrafa de vinho e era mais barata do que um pack de seis cervejas.
Desde 1999, o número de americanos mortos de overdose quadruplicou, segundo o US Centers for Disease Control and Prevention. Entre 2000 e 2015, mais de 500 mil pessoas morreram de overdose, com os opiáceos a serem responsáveis pela maioria. Uma situação que se agravou ainda mais em 2016, com os dados oficiais a mostrarem um aumento de 21% das overdoses em relação a 2015 - com mais de 64 mil americanos a morrerem devido ao consumo abusivo de drogas. Perante estes números, os peritos concordam que os EUA estão a viver uma epidemia de opiáceos, com mais de dois milhões de americanos dependentes ou a abusar de analgésicos e outras drogas, prescritas ou compradas de forma ilegal.
São raras as vezes em que as autoridades declaram emergência nacional não se tratando de uma catástrofe natural. Aconteceu em junho passado em Porto Rico após serem detetados mais de dez mil casos de zika. Antes disso, é preciso recuar até 2009-10, quando os receios de uma pandemia de gripe obrigaram a tomar esta medida.
Agora, Trump admite que "este país e, na verdade, o mundo inteiro, tem um problema com as drogas.... e vamos resolvê-lo". A decisão de declarar emergência nacional deverá agradar a Chris Christie. O governador de New Jersey, que preside à Comissão da Casa Branca para o Combate à Droga e à Crise dos Opiáceos, disse-se ansioso por começar a trabalhar com o presidente para acabar com as 142 mortes por dia devido a overdose nos Estados Unidos".