Trabalhistas porta-a-porta na circunscrição onde cada voto conta

Em 2015, o Labour venceu os conservadores em Ealing Central & Acton por apenas 274 votos. Agora, os apoiantes de Jeremy Corbyn tentam garantir que não será graças a esta circunscrição que Theresa May vai reforçar a maioria.
Publicado a

Fliss Premau tirou férias mas está a fazer tudo menos descansar. Com a mala azul a abarrotar de panfletos do Labour e o à vontade de quem já anda nisto há muito tempo, toca a mais uma campainha num edifício junto aos jardins Springfield. Estamos quase na fronteira da circunscrição de Ealing Central & Acton e não será aqui que Fliss vai votar, mas é aqui que cada voto conta e que a campanha porta a porta é importante. Em 2015, a trabalhista Rupa Huq ganhou por apenas 274 votos aos conservadores e agora os voluntários tentam garantir que não será graças a esta circunscrição que Theresa May reforçará a sua maioria no Parlamento.

"A cada dez portas, haverá uma que se abre", conta. É o que acontece com a número 12, mas não é preciso muito tempo para ouvir que os moradores estão informados sobre as eleições de quinta-feira e vão votar Labour. "Obrigada, é muito importante, em 2015 foi por muito pouco. Convença os seus vizinhos", despede-se Fliss. Três portas abaixo, outra voluntária deparou-se com um eleitor indeciso, preocupado com a situação económica e querendo apenas o melhor para a sua família.

Rupa Huq, deputada muçulmana cujos pais vieram do Bangladesh, enfrenta a conservadora Joy Morrisey e o liberal-democrata Jon Ball. Em 2010, quando esta circunscrição foi criada perdendo a área trabalhista de Shepherd Bush, menos de cinco mil votos separaram a vencedora conservadora do terceiro classificado liberal-democrata. Cinco anos depois, a corrida acabou por ser ainda mais renhida, mas só a dois, ganha por Huq. Um frente a frente que se espera que se repita novamente, com as sondagens a darem o regresso do bipartidarismo a nível nacional - conservadores e trabalhistas reúnem mais 80% dos votos segundo as sondagens.

"Esta foi a quinta circunscrição mais renhida em todo o país. Quando foram antecipadas as eleições, as pessoas tiveram medo que fossemos perder este lugar. Mas o cenário nacional mudou a nosso favor e localmente temos feito uma excelente campanha a favor de uma pessoa que cresceu aqui e conhece os nossos problemas", conta David English, que distribui trabalho pelos voluntários. "É cansativo, mas excitante", diz o jovem, enquanto vai entregando panfletos e autocolantes de Rupa Huq. A mudança no cenário nacional prende-se com a subida nas sondagens de Jeremy Corbyn, líder do Labour, com os trabalhistas a recuperarem de uma desvantagem de 20 pontos percentuais quando as eleições foram convocadas para menos de 5%, segundo algumas sondagens.

É uma T-shirt azul com o nome de Corbyn, numa letra a amarelo e vermelho que faz lembrar uma banda desenhada de um super-herói, que John Purcell veste. Acaba de sair da sede do partido trabalhista na circunscrição, depois de um dia em campanha. Também não vota na área, mas diz que é importante ali estar para não deixar os conservadores ganharem mais terreno. "Não podemos perder a esperança", admite, lembrando que as previsões são complicadas. "Temos que estar à espera de uma surpresa", acrescenta. Mas porquê votar Labour? "Porque queremos salvar o serviço nacional de saúde, porque queremos investir na educação. Queremos mudar a narrativa de austeridade e investir nas pessoas. Não queremos ter um governo a tirar os benefícios a pessoas que estão em dificuldade", conta.

Os britânicos elegem diretamente o seu representante para Westminster e é o líder do partido com mais deputados que se torna primeiro-ministro. A preocupação do eleitor indeciso que os voluntários encontraram naquele prédio em Acton prende-se não com a candidata local, mas com o líder do Labour, não parecendo convencido (como muitos britânicos, segundo as sondagens) que ele daria um bom primeiro-ministro. Mas a sua aprovação tem vindo a melhorar, à medida que a campanha avança e, ao fim de 15 minutos, este é mais um eleitor que diz que vai votar Labour.

A 20 minutos de autocarro da base trabalhista em Acton está a sede conservadora, situada em Ealing. Mas a ordem é para ninguém falar com jornalistas sem uma autorização superior que não chega. Ontem a campanha era feita ao telefone e não nas ruas, apesar do sol que fez esquecer a chuva intensa da véspera. Os eleitores conservadores ao redor de Broughton Road são de poucas palavras e estão confiantes que Theresa May vai conseguir reforçar a maioria, o objetivo da primeira-ministra ao antecipar as eleições.

Enviada a Londres

Diário de Notícias
www.dn.pt