Thomas Cook, a agência de viagens com 178 anos que fechou as portas
Começou por organizar excursões locais, que não iam além dos 20 quilómetros. Hoje transportava cerca de 19 milhões de pessoas todos os anos.
A agência de viagens britânica Thomas Cook declarou falência esta segunda-feira, deixando cerca de 600 mil turistas em todo o mundo por repatriar. Tinha 178 anos de existência e uma longa experiência no ramo, mas não conseguiu rivalizar com as ofertas online a preços mais convidativos.
Foi fundada, em 1841, pelo marceneiro Thomas Cook, em Leicestershire, no Reino Unido, e começou por organizar excursões locais, que não iam além dos 20 quilómetros. Nasceu com o objetivo de entreter as massas e evitar que as pessoas caíssem nos perigos do álcool, que Cook interpretava como sendo a causa de quase todos os males em plena época vitoriana,segundo a BBC. A primeira viagem mais longa foi feita de comboio de Liverpool até Loughborough, onde fica a maior fundição de sinos do mundo, por cerca de três libras atuais (3,40 euros). E repetida durante vários verões.
Seguiram-se a primeira travessia para as ilhas britânicas e para o canal da Mancha, que dá acesso a Paris. Europa, América, Ásia vieram com o interesse crescente da classe média inglesa pelas viagens, na altura em que John Mason Cook sucedeu ao pai e assumiu o controlo da empresa em 1892.
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A Thomas Cook ainda passaria para a terceira geração da família, mas pouco tempo depois, na década de 20 do século passado, seria vendida ao grupo belga Orient Express, que também não ficaria no comando durante muito tempo. Uma vez que o operador turístico foi nacionalizado no início da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) para evitar a ocupação nazi.
As viagens aéreas entraram na oferta da agência em 1999 já de novo com gestão privada. E a Thomas Cook conseguiu manter um número fiel de clientes, transportando por ano uma média de 19 milhões de pessoas do Reino Unido para outros países. Mas com a chegada do digital também à área do turismo, a agência começou a perder terreno e a não conseguir competir com os preços e a acessibilidade de outros operadores. O negócio que nasceu nas ruas de Leicestershire não resistiu à globalização.
O fim da agência histórica
O fim chega depois de o operador turístico ter anunciado que não conseguiu, durante o fim de semana, chegar a um acordo para obter os fundos necessários para garantir a sua sobrevivência. "Apesar dos esforços consideráveis, as discussões entre as diferentes partes interessadas do grupo e de novas fontes de financiamento possíveis, não resultaram em acordo", indicou a Thomas Cook em comunicado.
O grupo precisava de angariar 200 milhões de libras (cerca de 227 milhões de euros) em fundos adicionais, reivindicados pelos bancos, como o RBS ou o Lloyds. Como não conseguiu fechou portas com efeito imediato: " Todas as reservas da Thomas Cook, incluindo voos e pacotes de viagens, estão agora cancelados", anunciavam durante a madrugada.
As dificuldades financeiras da empresa acumularam-se no ano passado, mas em agosto foram anunciadas negociações com o grupo chinês Fosun, que detém múltiplos ativos a nível mundial, nos setores de saúde, bem-estar, turismo (como o Clube Med), financeiro e até futebol (o clube inglês Wolverhampton Wanderers, treinado pelo português Nuno Espírito Santo).
600 mil turistas e 22 mil empregos
A insolvência repentina acontece quando havia 600 mil clientes em viagem, muitos sem saberem ainda como vão regressar ao seu país. No Reino Unido, ficaram por repatriar 150 mil britânicos, sobre os quais o Governo já anunciou ir assumir a responsabilidade, numa operação a que chamaram Operação Matterhorn. Segundo a Autoridade da Aviação Civil, citada pela Guardian, esta é a maior operação de repatriamento britânica da História do Reino Unido em tempo de paz e terá um custo de cerca de 700 milhões de euros.

Passageiros no aeroporto da Grécia à espera de uma solução para viajarem, depois da Thomas Cook ter declarado falência
© REUTERS
O fim da Thomas Cook deixa ainda cerca de 22 mil funcionários sem emprego, segundo a BBC.