Theresa May vai nomear ministro para o brexit

Nova primeira-ministra toma hoje posse, depois de uma última sessão de perguntas no Parlamento a David Cameron. UE pressiona para saber os planos do novo governo
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O camião de mudança chegou às traseiras do n.º 10 de Downing Street pouco depois de terminar o último conselho de ministros de David Cameron, marcado pelos tributos ao chefe de governo. Hoje, outro camião trará os pertences de Theresa May, a ministra do Interior que ontem foi a última a deixar a reunião e a sair da residência oficial do primeiro-ministro, cuja chave receberá nesta tarde da rainha Isabel II. O desafio da segunda mulher a assumir a chefia do governo britânico, 26 anos após a saída de Margaret Thatcher, é liderar a saída do Reino Unido da União Europeia (UE).

No referendo, May fez discretamente campanha pela continuação do país na UE. Mas, quando se lançou na corrida à liderança dos tories, deixou claro que "brexit significa brexit" e que iria respeitar a decisão dos britânicos - o governo já rejeitou a ideia de um segundo referendo, pedida por mais de quatro milhões de britânicos numa petição, mas o Parlamento ainda deverá analisar o tema. "Vou criar um novo departamento governamental responsável por liderar as negociações", explicou no início da campanha, dizendo que o ministro responsável viria do campo do brexit.

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Da parte de Bruxelas e dos europeus, são muitas as vozes que pressionam para uma decisão rápida de May. O comissário europeu para os Assuntos Económicos, Pierre Moscovici, disse ontem esperar que depois de o processo de substituição de Cameron ter sido acelerado (só era esperado um sucessor para setembro) isso signifique que o processo de discussão com a UE seja também acelerado. A chanceler alemã, Angela Merkel, pediu para que o Reino Unido clarifique "rapidamente como quer que sejam as relações com a UE no futuro".

Nomes prováveis

Os jornais britânicos avançavam ontem com vários nomes para a pasta do brexit, entre eles o de David Davis, que é deputado desde 1987 e já trabalhou nos Negócios Estrangeiros. Num artigo publicado num site de militantes conservadores, defendeu que Londres não deve ter pressa em acionar o artigo 50 do Tratado de Lisboa, devendo pensar primeiro numa estratégia negocial.

Outro nome a ser falado é o de Chris Grayling, o líder da Câmara dos Comuns que foi o responsável pela campanha de May (que acabou por ser encurtada com a desistência da adversária, Andrea Leadsom). Grayling já foi ministro da Justiça e secretária de Estado do Emprego e, mesmo que não consiga a pasta do brexit, tudo aponta para um regresso ao governo.

Mas há quem diga que May poderá até entregar o cargo a um antigo adversário: o ex-ministro da Defesa Liam Fox ou o atual ministro da Justiça Michael Gove. Este último foi um dos principais rostos do brexit e concorreu de surpresa a líder dos tories, retirando o apoio ao amigo e ex-mayor de Londres Boris Johnson. Tanto Fox como Gove são também apontados como eventuais chefes da diplomacia e até Boris deverá entrar no executivo - fala-se na pasta da Cultura e Desporto.

O atual ministro dos Negócios Estrangeiros, Philip Hammond, é a aposta para as Finanças, caso May decida tirar George Osborne. Aquele que nos últimos anos era apontado como provável sucessor de Cameron na chefia de governo foi um forte defensor da continuação do país na UE e com a derrota no referendo viu afastadas as suas hipóteses. Mas poderá ir para chefe da diplomacia em troca com Hammond - especialmente porque caberá a outro ficar com a pasta do brexit.

A remodelação governamental deverá ser conhecida hoje. No meio de tantas mudanças, as redes sociais congratulavam-se ontem com um sinal de "estabilidade": Larry, o gato que em 2011 se mudou para o n.º 10 de Downing Street para caçar ratos, não perdeu o emprego. "É o gato de um funcionário e não pertence aos Cameron. Ele vai ficar", disse ontem uma porta-voz do governo.

Entretanto, o ainda primeiro-ministro dedicou o seu último dia à educação, visitando uma escola gratuita em Londres e anunciando o plano para construir outras 31. Hoje, estará no Parlamento para responder às últimas questões dos deputados, antes de ao início da tarde apresentar a demissão a Isabel II. A rainha terá em Theresa May a 13.ª chefe de governo do reinado.

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