Tinha 24 anos quando cometeu os crimes, 38 quando se pôs em fuga. Agora, aos 65, o espanhol Carlos García Juliá foi finalmente detido. Espanha deve pedir a sua extradição do Brasil nas próximas semanas, para cumprir uma pena de 193 anos de prisão..Pedro Sanchez, chefe de governo espanhol, já se congratulou via Twitter: "O fascismo quis por a Democracia de joelhos, mas a Democracia e a Justiça sempre vencem os seus inimigos.".García Juliá foi um dos cinco elementos da Fuerza Nova, um movimento de extrema-direita espanhola, responsáveis pelo atentado que ficou conhecido no país vizinho como a "Matança de Atocha"..A 24 de janeiro de 1977, um grupo armado irrompeu pelo escritório da delegação operária do Partido Comunista e mataram à queima roupa três advogados, um administrativo e um estudante de direito..O seu objetivo era impedir o crescimento das forças de esquerda e retomar o fascismo que vigorava no país antes de "la Transicíon", durante o ditadura franquista..García Juliá era um dos pistoleiros. Em tribunal, foi não só condenado por homicídio em primeiro grau como também por terrorismo. A pena era pesada - para todos os efeitos, iria passar o resto da vida na prisão..Um dos elementos do seu grupo tinham conseguido fugir da justiça antes sequer de ser levado a tribunal e ele também tentou a sua sorte. Em 1979 tentou escapar-se da prisão de Ciudad Real, ainda antes do processo começar - sem sucesso..Mas em 1994, após cumprir 14 anos de pena, quando cumpria uma saída em liberdade condicional, conseguiu convencer um juiz a autorizá-lo a viajar para o Paraguai - alegando que ali tinha uma oferta de trabalho..Aproveitou com isso um vazio legal: o facto de ter uma condenação por terrorismo fazia com que o juiz do tribunal que o havia preso, em Valladolid, não pudesse dar seguimento a medidas especiais que teriam de ser decretadas por Madrid..Aos olhos da lei, o homem tinha uma oferta, e uma oferta significava a sua reinserção na sociedade. O juiz não teve outro remédio senão autorizá-lo a viajar..Quando chegou a Assunção começou por cumprir os ditames institucionais: inscreveu-se na embaixada espanhola e, quando passado uns meses Madrid lhe enviou uma carta para que voltasse a Espanha e cumprisse o resto da pena, ele foi ao consulado recebê-la..Depois fugiu..Nos 24 anos seguintes, andou sempre um passo à frente das autoridades de espanhola, que pediram um mandato de captura internacional ao homem..Esteve preso na Bolívia por tráfico de droga e financiamento de grupos paramilitares, mas nessa altura a polícia espanhola não conseguiu desmascarar a identidade falsa que usava..Carlos tinha-se evaporado, Espanha ia recolhendo sinais de que tinha estado na Argentina, no Chile, no Brasil, na Venezuela. Mas quando chegava a altura de emitir uma ordem de detenção, o seu paradeiro era pura e simplesmente um mistério..O caso ganhou nova vida em 2016, quando a Audiência Nacional de Espanha voltou a emitir um mandato de captura. A Polícia Federal brasileira encontrou-o esta semana desarmado, a sair de casa de casa. Vivia uma vida descontraída e era motorista da Uber.