Temer contra-ataca: "Joesley é conhecido como um fala-barato"

Presidente reafirma que não renuncia, ataca delator e põe em causa veracidade da gravação. Mas aliados avaliam saída do governo
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Em discurso ontem ao início da noite no Palácio do Planalto, Michel Temer defendeu-se atacando Joesley Batista, o delator que o gravou em encontro na calada da noite no porão do Palácio do Jaburu, residência oficial do chefe de estado. O presidente da República chama o seu interlocutor na gravação de "conhecido fala-barato", sublinha que, de acordo com peritos ouvidos pela imprensa, "o áudio foi editado", e reafirma que não vai renunciar ao cargo.

"Vou continuar à frente do governo, que tem um rumo, para que o Brasil não saia dos trilhos", disse também Temer, numa comunicação sem direito a perguntas em que destacou os indicadores de uma ténue recuperação económica no país. Apesar disso, a situação política de Temer permanece frágil: PSDB e DEM, dois dos partidos mais importantes da base de sustentação do governo, avaliam os prós e os contras de continuar coligados. Ronaldo Caiado, pré-candidato pelo DEM à presidência da República em 2018, pediu que o chefe do Estado "renuncie, em nome dos interesses do país". Tasso Jereissati, que substituiu Aécio Neves, outro dos visados na delação de Batista, à frente do PSDB pede tempo para sentir o impacto da crise. Partidos de menor peso, porém, já se afastaram, o que se refletiu na saída dos ministros.

Temer é acusado pela procuradoria-geral da República, com a anuência do Supremo Tribunal Federal, de corrupção passiva, organização criminosa e obstrução da justiça por, supostamente, ter comprado o silêncio de Eduardo Cunha, um aliado condenado na Operação Lava-Jato, via Joesley Batista, dono da JBS, maior processadora de proteína animal do mundo. Oito pedidos de impeachment foram protocolados nas últimas horas, juntando-se a quatro que já estavam em avaliação pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia.

Entretanto, Cunha reagiu ao noticiário através de uma carta manuscrita enviada da prisão, em Curitiba. O ex-presidente da Câmara dos Deputados, que, segundo a acusação, Temer pretendia silenciar, afirma que recentemente desmentiu o presidente "com contundência" e que isso demonstra que não está "alinhado com as teses do Palácio do Planalto". "Repudio as informações divulgadas de que estaria recebendo qualquer benefício para me manter em silêncio, estou exercendo o meu direito de defesa, não estou em silêncio e tampouco ficarei, jamais pedi qualquer coisa ao Michel Temer", escreveu o velho aliado do presidente.

Num evento do PT, o ex-presidente Lula da Silva reagiu aos últimos acontecimentos. "Queremos que o Temer saia logo, mas não queremos um presidente eleito indiretamente, não importa quem for, nós podemos perder, mas se perdermos democraticamente valeu o jogo, o que não dá é alguém, em vez do povo, indicar o presidente ". Lula atribuiu ao seu partido as diferenças no combate à corrupção dos últimos anos: "Ninguém na história desse país criou mais mecanismos o para combater a corrupção do que o PT, a polícia federal é o que é por causa do PT". Mas concluiu: "Queremos que a pessoa seja investigada e tenha o direito de defesa, isso vale para o PT, o PMDB, os procuradores, os juízes, até para o Papa".

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