Suécia fez pior que vizinhos nórdicos e prepara medidas mais rígidas
Depois de meses em que tentou controlar o número de casos sem recorrer ao confinamento nem a medidas drásticas, a Suécia parece estar a endurecer a sua posição face à covid-19 e prepara-se para introduzir medidas mais rígidas. Ao contrário do que aconteceu em países como França e Espanha, a Suécia foi poupada a uma segunda vaga de covid-19 no final do verão mas, nas últimas semanas, o número de casos tem aumentado constantemente.
Um total de 100 654 pessoas tiveram teste positivo para coronavírus desde o início do surto, disseram autoridades de saúde suecas na conferência de imprensa quinzenal realizada na terça-feira à tarde. Um total de 5 899 pessoas morreram até o momento com covid-19 no país. 23 pacientes com coronavírus estão atualmente em cuidados intensivos.
Quando comparados com os dos países vizinhos, os números da Suécia são, de facto, mais elevados:
A Suécia tem 100 654 casos confirmados de covid-19 e 5 892 mortes.
A Noruega tem um total de 15 888 casos de covid-19 e 277 mortes.
A Dinamarca tem 33 300 casos de covid-19 e 671 mortes.
A Finlândia tem 12 499 casos de covid-19 e 346 mortes.
O que é ainda mais preocupante se pensarmos que a Suécia não fez tantos testes nem rastreamento de contactos como outros países ricos fizeram. Até o final de maio (e novamente em agosto), a Suécia testou 20% do número de pessoas per capita em comparação com a Dinamarca, e menos do que a Noruega e a Finlândia. Mesmo com o aumento dos testes no outono, a Suécia ainda testa apenas cerca de um quarto do teste da Dinamarca.
A taxa de mortalidade por covid-19 da Suécia é de 58,4 por 100 mil habitantes, de acordo com dados da Universidade Johns Hopkins, a 12.ª maior do mundo.
Além disso, um estudo publicado esta semana no Journal of the American Medical Association, conclui que, dos países analisados, a Suécia e os Estados Unidos formam um grupo à parte: são os dois países com altas taxas de mortalidade que não conseguiram reduzir rapidamente esses números à medida que a pandemia progredia.
A média de casos diários aumentou 173% em todo o país, da semana 2-8 de setembro para a semana 30 de setembro - 6 de outubro, e em Estocolmo esse número aumentou 405% no mesmo período.
Embora até agora não se verifique um aumento significativo de mortes nem de internamento em cuidados intensivos, as autoridades suecas estão preocupadas. A maioria dos novos casos é de pessoas com idades entre 20 e 50 anos - o que levou já a uma apelo aos mais jovens para evitarem contactos desnecessários e terem cuidados adicionais.
Depois, "há sinais preocupantes de que o vírus está novamente a afetar os lares de idosos", disse o epidemiologista estatal Anders Tegnell, acrescentando que o número de casos em lares de terceira idade duplicou entre a semana iniciada a 28 de setembro e a semana seguinte, embora por enquanto num nível muito baixo em comparação com a situação verificada na primavera - um grande número das quase 6 mil mortes do país ocorreu em lares naquela altura. De então para cá, as mortes de covid-19 em lares baixaram significativamente, em parte graças à proibição de visitas em todo o país, mas também a uma série de outras medidas tomadas pelas instituições.
Quando a situação nos lares parecia normalizada - e uma vez que as autoridades de saúde estavam preocupadas com o isolamento dos idosos - a Suécia permitiu a 1 de outubro que fossem retomadas as visitas ao lares. "Não há nada que indique haver uma ligação entre estes novos casos e os lares de terceira idade, porque este aumento começou antes disso. Mas é importante agora que os lares prestem atenção, que façam muitos testes e possibilitem a permanência de parte do pessoal em casa", disse Tegnell.
A Suécia nunca colocou em quarentena as pessoas que chegavam de áreas de alto risco no estrangeiro nem fechou a maioria dos negócios, incluindo restaurantes e bares. Os membros da família das pessoas com teste positivo continuam a frequentar a escola e o trabalho.
Atualmente, as recomendações de saúde na Suécia são para que as pessoas trabalhem em casa se puderem, fiquem em casa se apresentarem sintomas, lavem as mãos com cuidado, evitem grandes reuniões sociais, mantenham a distância e usem outros meios de transporte que não o transporte público, se possível.
Mas, na próxima semana, o país deve endurecer as suas medidas contra o coronavírus, possibilitando que as autoridades regionais introduzam diretrizes locais adicionais, se necessário. Entre as medidas previstas estão as recomendações para evitar viagens desnecessárias, idas a centros comerciais, piscinas e outros locais fechados onde se juntem muitas pessoas.