Soraya e Cospedal: as rivais de sempre lutam pela liderança do PP

Ambas querem ser a primeira mulher com possibilidades reais de chegar a chefe do governo de Espanha. Há mais de dez anos que rivalizam, tentando sempre disfarçar as suas diferenças

Soraya Sáenz de Santamaría e Dolores de Cospedal foram ao longo dos últimos anos os dois grandes apoios de Mariano Rajoy, ex primeiro-ministro espanhol derrubado do poder após a vitória da moção de censura do socialista Pedro Sánchez contra o governo do Partido Popular. Duas mulheres, com percursos profissionais paralelos, brilhantes, enfrentam-se agora para disputar a liderança do partido.

Ao todo, há seis candidatos em jogo nas primárias dos populares desta quinta-feira, mas elas são as favoritas. Segundo um estudo da Sociométrica para o site El Español, Soraya e Cospedal são as favoritas, tanto dos espanhóis, como dos eleitores do PP.

Ambas querem ser a primeira mulher com possibilidades reais de chegar a chefe do governo de Espanha. Há mais de dez anos que rivalizam, tentando sempre disfarçar as suas diferenças. Até agora. Sentem-se guardiãs do legado de Rajoy e apelam à unidade do partido. Mas fazem-no a partir de posições políticas, ideológicas e pessoais muito distantes.

"São duas mulheres com biografias muito parecidas. Advogadas do Estado, começaram a trabalhar para o governo e, depois disso, deram o salto para a política", sublinha, em declarações ao DN, Carmen del Riego, cronista política do jornal La Vanguardia.

De Soraya, ex-vice-primeira-ministra de Espanha, destaca a sua constância e tenacidade, "muito trabalhadora". Mulher "amável que ganha muito quando se conhece de perto". De Dolores, ex-ministra da Defesa de Espanha, destaca uma mulher mais "distante, não tão afável" mas pensa que isso é, sem mais nem menos, "produto da sua enorme timidez".

Carmen del Riego lembra que, durante os anos em que esteve no governo, Soraya esqueceu-se do partido. "Dentro do PP não gostaram que ela não se tenha manifestado em relação aos casos de corrupção, como foi o caso de Bárcenas ou Gürtel", explica a analista. Cospedal, pelo contrário, gaba-se de defender sempre o PP, do qual foi secretária-geral, nos bons e nos maus momentos. E aceitou missões tão difíceis como ir para Castela-a-Mancha. "Rajoy precisava de alguém e ela aceitou. Com ela o PP ganhou, pela primeira vez, esta região", sublinha a cronista.

Uma de Madrid e outra de Valladolid

Cospedal, de 52 anos, nasceu em Madrid e passou parte da infância em Albacete, Castela-a-Mancha. Aí estudou numa escola religiosa de freiras. Já então se destacava por ser uma rapariga trabalhadora e ambiciosa com boas notas.

Licenciou-se em Direito na Univerisdade San Pablo-CEU de Madrid e em dois anos preparou e passou no concurso para advogada do Estado. Em 1991 conseguiu vaga no País Basco e, um ano depois, entrou nos serviços jurídicos do Ministério das Obras Públicas. Durante vários anos trabalhou em diferentes ministérios até atravessar a linha que separa o técnico do político e começou a ocupar cargos de confiança no PP. O mais mediático chegou em dezembro de 2005: conselheira de Transportes da Comunidade de Madrid.

Soraya, de 47 anos, nasceu e cresceu em Valladolid (Castela-e-Leão) e estudou numa escola privada. Licenciou-se em Direito na Universidade de Valladolid e foi a primeira a obter um prémio extraordinário fim de carreira. Passou no concurso para advogada do Estado e foi para a cidade de León.

Mudou-se mais tarde para Madrid quando soube que havia uma vaga como assessora jurídico-política no gabinete de vice-primeiro-ministro. Participou no desenho do programa eleitoral do Partido Popular em 2004 e foi número 18 das listas para o Parlamento. Só conseguiu, porém, ser eleita deputada com a saída de Rodrigo Rato para diretor-geral do Fundo Monetário Internacional.

Maternidade aos 40 anos de idade

Soraya e Cospedal foram ambas mães aos 40 anos e só têm um filho. Soraya casou pelo civil com o advogado do Estado José Iván Rosa Vallejo (filho de pai português e mãe espanhola) em 2005. O seu filho, Iván, nasceu en novembro de 2011 e ela renunciou à sua licença de maternidade para ajudar o PP na corrida para as eleições legislativas.

Cospedal, por seu lado, casou nova e separou-se três anos após o enlace, conseguindo que o matrimónio fosse anulado pela Igreja. Depois de vários anos solteira decidiu ser mãe. Sozinha. Tinha esperado quatro anos para adotar uma criança búlgara que nunca chegou. Foi então que recorreu à fecundação in vitro. Em 2006 nasceu, por inseminação artificial, o filho Ricardo. Em 2009 casou com o empresário Ignacio López del Hierro.

A origem da rivalidade

No Congresso de 2008 do PP, em Valência, Rajoy decidiu nomear María Dolores de Cospedal como secretária-geral do PP e Soraya Sáenz de Santamaría como porta-voz do grupo parlamentário do partido, que estava, então, na oposição. "A partir dessa altura, Cospedal passa a mandar no partido, na Calle Génova, e Soraya no Parlamento, primeiro, depois no governo, na Moncloa", diz ao DN o analista político Antonio Martín Beaumont. Um enfrentamento que é, "muitas vezes, alimentado pelas suas próprias equipas", refere o mesmo.

A poucos meses de Rajoy formar governo, em 2011, já se começava a falar dos dois grupos na Moncloa. Um, os"sorayistas", e outro, "o G-7 e depois o G-8, formado pelos ministros que não estavam em sintonia com Soraya", afirma Carmen del Riego, do La Vanguardia.

Cospedal não estava então nessa luta, ganhou as eleições em Castela-a-Mancha e, aparamente, ficou mais afastada de Rajoy. Enquanto isso, Soraya acumulava mais poder na Moncloa.

Dentro do partido, Cospedal é mais querida, enquanto Soraya ganhou mais inimigos. Nas suas respetivas candidaturas, ambas destacaram nos seus discursos o facto de serem mulheres.

Dolores, muito clara, afirmou: "Quero ser a primeira mulher a liderar o PP e a primeira mulher a liderar o governo de Espanha".

Soraya, de forma mais sibilina, lembrou as conquistas do governo de Rajoy no que toca à igualdade. A ex-vice-primeira-ministra pensa que "chegou o momento de dar o passo seguinte na direção de uma igualdade real".

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