Será que a roupa que usa foi feita na Coreia do Norte?
País exporta roupa para vários países de mundo
Apesar de ser um regime relativamente isolado economicamente, a Coreia do Norte exporta roupa para vários países como os Estados Unidos, o Japão, a Coreia do Sul, Canadá, Rússia e estados europeus. Muitas vezes, os consumidores nem imaginam que a roupa que usam foi produzida na Coreia do Norte porque as etiquetas dos produtos indicam apenas "Made in China".
O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou esta segunda-feira um reforço das sanções à Coreia do Norte, passando a incluir um embargo à exportação de têxteis. Esta medida poderá prejudicar fortemente a economia do regime de Pyongyang, já que os têxteis são a segunda maior fonte de rendimento do país, a seguir à exportação de carvão.
Segundo a Reuters, várias empresas de têxteis chinesas aproveitam-se da mão-de-obra barata do país vizinho e produzem as roupas em fábricas norte-coreanas, que pertencem todas ao estado. A China envia os tecidos e outros materiais necessários para a produção, depois recolhe as roupas e coloca a etiqueta.
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Este negócio mostra quão dependente economicamente é a Coreia do Norte da aliada China. Na primeira metade deste ano, as exportações da China para a Coreia aumentaram quase 30%.
O esquema não é novo e no ano passado a marca de desporto australiana Rip Curl pediu desculpas publicamente por vender roupa produzida na Coreia do Norte e culpou uma empresa intermediária. Contudo, empresários dizem que a prática é comum e que os produtores podem poupar até 75% ao fazerem e roupa na Coreia do Norte.
"Recebemos encomendas de todo o mundo", contou à Reuters um empresário coreano e chinês que faz este tipo de negócios. O homem trabalha na cidade chinesa de Dandong, que faz fronteira com a Coreia do Norte.
A poupança está na produtividade dos trabalhadores e nos baixos salários. "Trabalhadores norte-coreanos produzem mais 30% de roupas por dia do que os chineses", explicou o empresário, que não se quis identificar. "Na Coreia do Norte, os funcionários das fábricas não podem ir à casa de banho só porque têm vontade porque acham que, se forem, vão atrasar o trabalho".
"Eles não são como os funcionários chineses que trabalham só pelo dinheiro. Eles têm uma atitude diferente e acreditam que estão a trabalhar para o país e para o líder" Kim Jong-Un, acrescentou.
Estima-se que o negócio dos têxteis tenha rendido 752 milhões de dólares à Coreia do Norte em 2016, cerca de 627 milhões de euros, segundo números da Agência de Promoção e Vendas Coreana (KOTRA, sigla em inglês). Este setor rende apenas menos que a exportação de carvão e minerais, que corresponde a 90% das vendas ao estrangeiro, sendo a principal fonte de rendimento do país.
Tendo isto em conta, as Nações Unidos aprovaram em agosto deste ano um embargo às exportações de carvão, ferro, peixe e marisco, o que representaria uma grande perda para o regime de Pyongyang.
Contudo, foi apresentado esta segunda-feira pela ONU um relatório que revela que, apesar das sanções, a Coreia do Norte tem exportado ilegalmente carvão, ferro e outros materiais para países como a China, a Índia, a Malásia e Sri Lanka e com isso encaixou a quantia de 270 milhões de dólares (224 milhões de euros).
As novas sanções da ONU estendem-se ainda aos norte-coreanos empregados fora do país, que deixam de conseguir vistos de trabalho, o que os impedirá de enviar remessas dos rendimentos para o país de origem.
A Coreia do Norte está a ser penalizada por ter feito a 3 de setembro outro ensaio nuclear, o sexto. O país tem desrespeitado continuamente as decisões e as sanções da ONU.
A Coreia do Sul e o Japão veem as novas sanções impostas a Pyongyang pela ONU como uma advertência de que o país arrisca um isolamento total se prosseguir com os programas nuclear e de mísseis.