Investimento, mais justiça social e uma Europa mais forte. É esta a receita em que Martin Schulz aposta para, nos três meses que faltam para as eleições alemãs, dar a volta a umas sondagens que colocam o seu SPD 15 pontos atrás da CDU da chanceler Angela Merkel. A entrada de Schulz na corrida em janeiro fez disparar os sociais-democratas, que chegaram a estar um pouco à frente dos democratas-cristãos, mas uma série de maus resultados em eleições regionais inverteram a tendência. O partido espera agora por um renascer semelhante ao de Jeremy Corbyn na reta final antes das legislativas britânicas.."Estamos a viver tempos de agitação. Agora a Europa tem de ser refundada", garantiu Schulz diante dos militantes do SPD reunidos em Dortmund para aprovar o manifesto do partido. O antigo presidente do Parlamento Europeu, que passou as últimas duas décadas na política europeia, lembrou aos 600 delegados - a que se juntaram cinco mil convidados - que foi para defender ideias como a educação gratuita, a redução dos impostos para quem tem rendimentos mais baixos, o investimento em infraestruturas (inclusive digitais), mas também o desarmamento ou a garantia dos direitos humanos por que lutou "toda a vida"..Com o SPD a ser parceiro de coligação da CDU desde 2013, Schulz tem procurado virar o discurso à esquerda para impedir Merkel, de 62 anos, de chegar a um quarto mandato. Em perda de popularidade no pico da crise dos refugiados - em 2015 a Alemanha recebeu mais de um milhão de migrantes -, a chanceler conseguiu recuperar nos últimos meses. Numa Europa a braços com as negociações para o brexit e com um presidente tão imprevisível como Donald Trump na Casa Branca, os alemães parecem preferir a estabilidade e experiência da mulher que chegou ao poder ainda Tony Blair vivia no número 10 de Downing Street e George W. Bush era presidente dos EUA..Nos 80 minutos que durou o seu discurso inflamado, Schulz não poupou nos ataques diretos a Merkel, acusando a chanceler de não se ter imposto a Trump. "O maior perigo é a arrogância do poder. As pessoas conseguem senti-la", lançou Schulz, um futebolista falhado que foi livreiro e presidente de câmara antes de prosseguir uma carreira europeia..Depois da vitória da CDU nas eleições regionais do Sarre, em março, e no Schleswig-Holstein e Renânia do Norte-Vestefália, em maio, a onda vencedora de Merkel refletiu--se a nível nacional. A última sondagem do instituto Emnid dá 39% de intenções de voto à CDU, contra 24% para o SPD, nas eleições marcadas para 24 de setembro. A esquerda do Die Linke surge em terceiro com 9%, à frente d"Os Verdes e dos liberais do FDP, ambos com 8%. A Alternativa para a Alemanha (AfD, extrema-direita) consegue 7% das intenções de voto. Minado por divisões internas, o partido liderado por Frauke Petry chegou a ter 15% das intenções de voto no pico da chegada dos refugiados, mas tem vindo a perder apoios..O apoio de Schröder.Perante este cenário e com as eleições a menos de 90 dias, Schulz tem de "estancar a hemorragia", como escrevia ontem a Deutsche Welle. Por isso, decidiu não poupar a rival, acusando Merkel de "calar de forma sistemática o debate sobre o futuro do país", classificando esta atitude de "ataque contra a democracia". A chanceler é acusada, por vezes no seu próprio partido, de evitar os confrontos e jogar tudo na imagem de estabilidade. No SPD não lhe perdoam ter tirado proveito das reformas económicas feitas pelo antecessor, Gerhard Schröder..O antigo chanceler, que até agora se mantivera afastado da candidatura de Schulz, esteve em Dortmund num gesto de reconciliação interna. Aos 72 anos, o homem que Merkel derrotou em 2005 por apenas um ponto percentual, mostrou-se otimista: "Esta é a nossa oportunidade. Se mobilizarmos todas as nossas forças nas próximas semanas , podemos fazer do SPD o maior partido" na Alemanha, garantiu. Chanceler entre 1998 e 2005, Schröder acredita que "nada está decidido ainda". Conhecido pelo talento em campanha, Schröder recordou ainda aos sociais-democratas que um terço dos eleitores só decide em quem vai votar no próprio dia das eleições ou pouco antes, apelando portanto para que defendam a sua causa com paixão até ao fim.