Sanders tenta pôr Hillary KO e ganhar o voto nova-iorquino
Com 17 pontos de atraso nas sondagens em relação a Hillary Clinton, Bernie Sanders mostrou o lado mais combativo, no debate na sua Brooklyn natal. A poucos dias das primárias de terça-feira em Nova Iorque, o senador do Vermont não poupou nos golpes, sublinhando que não confia do "discernimento" da rival na corrida democrata para as presidenciais de novembro nos EUA. Às críticas sobre o valor que recebeu por discursar em Wall Street ou sobre o seu apoio à guerra do Iraque em 2003, Hillary respondeu com uma calma de aço e alguns olhares de lado.
Mesmo se Sanders ganhou sete das últimas oito primárias, Hillary continua com uma vantagem confortável em relação ao senador em termos de delegados à convenção de julho em Filadélfia. Tudo porque na corrida democrata os delegados são distribuídos de forma proporcional, o que faz com que apesar de Sanders ter ganho os caucus do Wyoming com 55,7% dos votos, contra 44,3% de Hillary, ambos levaram sete delegados. Mas é inegável que a sucessão de vitórias veio dar novo impulso à campanha do senador do Vermont, que sabe que conquistar Nova Iorque pode ser o ponto de viragem capaz de reforçar a sua esperança de obter uma nomeação em que pouquíssimos acreditariam quando o autodenominado socialista democrata entrou na corrida, em maio de 2015.
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Perante este cenário, Sanders garantiu: "Sentimo-nos mesmo confiantes numa candidata que diz que vai trazer a mudança à América quando está tão dependente do grande capital? Não me parece!". Fiel ao seu discurso antissistema, o senador de 74 anos acusou ainda Hillary de estar a tentar "escapar" aos grandes temas, quando a ex-primeira dama não respondeu à pergunta sobre se Israel usara força "desproporcionada" no ataque de 2014 a Gaza.
Calma, mas longe do tom cordial de debates anteriores, Hillary - senadora por Nova Iorque entre 2001 e 2009 -, não caiu ao tapete. Pelo contrário, retaliou aos ataques de Sanders recordando o seu apoio passado à posse de armas e os seus votos nesse sentido no Senado. "[O senador] tem sido um apoiante de confiança da NRA [o poderoso lóbi das armas]", garantiu.
Por vezes, a troca de palavras foi tão acesa que o moderador da CNN, Wolf Blitzer, teve de intervir, lembrando aos candidatos: "Se continuarem a gritar um com o outro, os telespectadores não conseguem ouvir o que vocês dizem".
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Sanders no Vaticano
Quase em vésperas de os nova-iorquinos irem a votos, Sanders não hesitou em trocar a campanha no terreno por uma ida ao Vaticano. O senador e a família chegaram ontem a Roma, onde ele participa numa conferência na Academia Pontifícia de Ciências Sociais. Aí, Sanders garantiu que "num tempo em que uns poucos têm muito e tantos têm pouco, temos de rejeitar os fundamentos da economia contemporânea como imorais e insustentáveis".
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A conferência contou ainda com as presenças dos presidentes da Bolívia , Evo Morales, e do Equador, Rafael Correa. O papa Francisco mandou uma nota escrita, alegando dificuldades de agenda e a ida hoje para a ilha grega de Lesbos, para explicar a ausência.